quinta-feira, 11 de julho de 2013

Às voltas com a política: Cavaco agrava crise política



Cavaco agrava crise política

Presidente marca eleições para 2014, recusa solução de Governo de Passos e Portas e desafia partidos a firmarem acordo de médio-prazo.
Espantando a classe política, o Presidente da República rejeitou ontem o acordo de Governo proposto por Passos e Portas e deixou um ultimato ao PSD, PS e CDS: que assinem "nos próximos dias" um compromisso de salvação nacional. Cavaco rejeitou também a exigência do PS e Bloco de antecipar eleições para Setembro deste ano, acenando com o risco de um segundo resgate, mas impôs desde já um prazo de validade a este Governo. Passos e Portas ficam até 2014, data em que termina o programa de ajustamento, e nessa altura o país vai a eleições.

Para já, o Governo, tal como está, isto é, com Portas como Ministério dos Negócios Estrangeiros demissionário, mantém-se "em plenitude" de funções. E, "de imediato", os partidos signatários do memorando da ‘troika' - PS, PSD e CDS - devem começar a negociar para firmarem um acordo de médio prazo. Fonte de Belém disse ao Diário Económico que o Presidente ficará a aguardar que os partidos digam quando estão prontos para reunir. O certo é que Cavaco quer urgência.

Adivinhando "as dificuldades políticas" dos partido em dialogar (as posições entre PS e PSD estão extremadas), Cavaco sugeriu, até, que recorressem a uma "personalidade de reconhecido prestígio" para promover o diálogo. "Chegou a hora da responsabilidade dos agentes políticos", rematou Cavaco, num discurso que acabou com uma ameaça aos três partidos.

Se não conseguiram firmar o tal compromisso de salvação nacional, cujos pilares traçou desde já, o Presidente recorrerá a outras soluções "jurídico-constitucionais." Quais? Não concretizou, deixando tudo em aberto, ou seja, um Governo de iniciativa presidencial, a dissolução da Assembleia da República e eleições, a demissão do primeiro-ministro ou a exigência de novo acordo entre Passos e Portas. Uma coisa Cavaco Silva quis deixar claro: qualquer uma dessas soluções "não dará as mesmas garantias de estabilidade que permitam olhar o futuro com confiança". Para Cavaco, o acordo de médio-prazo entre PS, PSD e CDS, que prepare um terreno sustentado até Junho de 2014 (eleições) e no pós-troika, "é a solução que melhor serve o interesse dos portugueses".

PS, PSD e CDS, surpreendidos com o ultimato de Cavaco como apurou o Diário Económico junto dos partidos, reagiram com reservas à solução apresentada pelo Presidente e recusaram-se a dar resposta imediata ao repto. O CDS, pela voz de Nuno Magalhães, chegou mesmo a dizer que o Presidente teve uma "iniciativa política" e os socialistas exigiram que sejam chamados ao debate Bloco e comunistas.

António José Seguro já há muito que se distanciou do memorando que foi assinado pelo seu antecessor José Sócrates e abriu ruptura com Passos. Apresentou uma moção de censura ao Governo e tem exigido eleições antecipadas por considerar que a política do Executivo falhou.

Cavaco Silva admite estar "consciente" de que o diálogo é difícil mas avisa PS e PSD para terem "vontade e espírito de cooperação" e para colocarem "o interesse nacional acima dos seus próprios interesses".
Foi esta a solução proposta por Cavaco depois de cinco dias com o país e o Governo em suspenso de uma decisão.

Aceitaria Cavaco a remodelação proposta pelo primeiro-ministro para dar a volta à crise política criada pela demissão de Portas? Quase todos antecipavam que Cavaco aceitaria mas ontem o Presidente optou por uma espécie de terceira via. Não sem antes explicar detalhadamente porque razão não aceitava a antecipação de eleições para Setembro.

Porque iniciar agora um processo eleitoral seria "um retrocesso" no programa de ajustamento e atraso no pagamento da tranche, porque o país corria o risco de um segundo resgate, "ainda mais exigente", porque iria atrasar a entrada em vigor do Orçamento do Estado para 2014 e porque Portugal se via impedido de pagar no próximo ano os 14 mil milhões de euros que deve ao FMI no âmbito de empréstimos de médio e longo prazo contraídos no passado.

Mais: o Presidente antevê mesmo que em Setembro seria difícil formar um Governo "com consistência e solidez", dado o clima de crispação que se vive entre os partidos, dando a entender que não acredita que qualquer um dos partidos consiga maioria absoluta ou coligações.

Com a dramatização das consequências de eleições antecipadas, Cavaco quis avisar os três partidos dos efeitos negativos que o país sofrerá se não houver acordo de salvação nacional, colocando o ónus no PS e PSD, sobretudo.

Fonte: Económico Online

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