terça-feira, 11 de junho de 2013

À Volta com a Vida: Para os apreciadores: Cancro: Afinal a culpa é do sexo oral?




Cancro: Afinal a culpa é do sexo oral?


Não foram anos de tabaco, nem de álcool. O actor Michael Douglas diz que o seu cancro foi provocado por vírus transmitido através de sexo oral.

Parece que Michael Douglas até tem alguma razão. O cancro na garganta que lhe foi diagnosticado há dois anos pode ter sido provocado pelo vírus do papiloma humano (HPV), transmitido através de sexo oral. Os especialistas estão cada vez mais certos da relação entre este vírus e o risco de contrair alguns cancros orais e dizem que estes casos estão a aumentar.

A revelação feita pelo actor norte-americano de 68 anos na segunda-feira ao diário The Guardian pôs meio mundo a falar de um risco quase desconhecido do sexo oral.

E apesar de o porta-voz de Douglas ter vindo negar que o actor fizera essa associação directa, o som da entrevista divulgado pelo jornal britânico não deixa margem para dúvidas: «Este cancro em particular é causado pelo HPV, que é provocado pelo cunnilingus», revelou Douglas ao jornalista do The Guardian.

A declaração é vista sem qualquer surpresa pelo antigo presidente do Colégio da Especialidade de Oncologia da Ordem dos Médicos. «Hoje, entre os oncologistas, é cada vez mais consensual que há um aumento de risco de cancro relacionado com o HPV», defende Jorge Espírito Santo.

O especialista diz que «a transformação de uma célula saudável numa célula cancerígena nunca resulta de um único factor, mas sim de uma multiplicidade de factores» e que há provas cada vez mais sólidas de que este vírus pode ser um factor agravante para o desenvolvimento destes tumores.

Em Portugal, calcula-se que 300 dos 1.500 cancros orais que surgem todos os anos, sejam da orofaringe, os que mais são associados ao HPV. Cancros cuja incidência não tem parado de crescer e cuja mortalidade é elevada por não serem diagnosticados a tempo. Uma situação que já levou o Ministério da Saúde a elaborar um plano específico para o aumento do diagnóstico destes problemas, preparando este ano o lançamento de um rastreio do cancro oral.

Vários estudos evidenciam que o HPV é detectado em até cerca de 25 por cento dos cancros orais. Nos EUA este risco aumenta no caso do cancro da língua por exemplo.

Mas nestes cancros, são o tabaco e o álcool os principais factores de risco. E o protagonista de Atracção Fatal é conhecido por ter tido um estilo de vida que incluía doses maciças dos dois, bem como de abuso de drogas, tendo feito vários tratamentos de desintoxicação do álcool. Em várias fotografias surge também a fumar depois de o cancro lhe ter sido diagnosticado.

Apesar disso, o actor não teve qualquer dúvida em afastar o peso destes vícios quando o jornalista do The Guardian quis saber se o excesso de álcool e tabaco não tinha contribuído para a doença. Douglas, que é casado com a actriz Catherine Zeta-Jones, preferiu a tese do sexo oral, mas os médicos estão convictos de que os cigarros e o alcoolismo terão tido um peso bem mais determinante no desenvolvimento do cancro na garganta.

Certo é, como explica Jorge Espírito Santo, que os doentes com cancros orais e que têm testes positivos para o HPV têm um «prognóstico ligeiramente melhor» no combate à doença.

Vírus silencioso

Há muito que o HPV, que infecta 75% da população sexualmente activa em Portugal, está ligado ao risco de cancro. O vírus, que se transmite através de relações sexuais (vaginais, anais e orais) desprotegidas, é sobretudo associado ao cancro do colo do útero. Há centenas de vírus HPV diferentes, a maioria inofensivos. Mas apenas dois deles são responsáveis por 70% dos cancros do útero diagnosticados. Por isso, em Portugal a vacina contra vários subtipos do HPV mais agressivos é dada, desde há cinco anos, às adolescentes, sendo recomendada antes do início da vida sexual.

Mas se é possível fazer uma ligação directa entre o cancro do colo do útero e o HPV, o mesmo não acontece com o cancro oral. O andrologista Nuno Monteiro Pereira salienta que há inúmeros estudos sobre a relação do HPV com o cancro da boca, da língua e amígdalas, mas muitos com resultados contraditórios. E lembra que, mesmo no caso do cancro do pénis ou da vulva, a relação não é directa. «É preciso haver mais provas, mas como o HPV está muito disseminado, estabelecer uma relação directa é mais difícil».

O especialista admite o aumento do risco e reconhece que, nestes casos, os homens e as mulheres devem preocupar-se, adoptando as mesmas precauções que evitam outras doenças sexualmente transmissíveis, como a sida, a sífilis ou a gonorreia. «Usar preservativo, evitar múltiplos parceiros», recomenda.

É que o vírus pode estar inactivo durante anos e depois começar a actuar silenciosamente. «É possível ter o vírus e não a doença», acrescenta

A única forma de diagnóstico é o rastreio. Nas mulheres através do ‘papanicolau’, um teste ginecológico de rotina, e nos homens através de um teste com ácido asséptico a 5%, que permite detectar lesões no pénis, que não são facilmente visíveis.

«É um teste indolor para os homens», garante Monteiro Pereira. «As lesões provocadas pelo HPV reagem ao ácido e ficam brancas, sendo visíveis através de ampliação». Qualquer suspeita de cancro terá sempre de ser confirmada através de biópsia.

Quer nas mulheres quer nos homens as feridas provocadas pelo HPV não cancerígenas são facilmente tratáveis, mas o vírus não tem cura, podendo apenas ser controlado por tratamento.

Facilmente transmitidas através de sexo oral são outras doenças como a sífilis, a gonorreia ou a candidíase. «A candidíase é a mais comum entre homens e mulheres. É uma doença provocada por fungos», conclui o especialista, lembrando que há um risco importante de transmissão da doença através de sexo oral. Segundo os especialistas, neste caso, é mais comum a infecção das mulheres através de sexo oral.

Fonte: Jornal SOL Online

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