segunda-feira, 22 de abril de 2013

O Poeta é um fingidor... BIOGRAFIA - PARTE II ( 1901 a 1920)

BIOGRAFIA
( De 1901 a 1920)
PARTE II
[1901]



Junho - É aprovado com distinção no seu primeiro exame, o "First Class School Higher Certificate" da Universidade do Cabo da Boa Esperança (universidade que existia apenas no papel, não tendo instalações físicas). Neste mesmo mês, no dia 25, morre a sua irmã, Madalena Henriqueta. Começa nestes meses a escrever as primeiras poesias em inglês.
Agosto - No dia 1, vem a Portugal, com a família, de férias. No navio em que viajam, o paquete König, vem o corpo da sua irmã falecida. O vapor passa por locais exóticos como Lourenço Marques, Zanzibar, Dar-es-Salam, Port Said e Nápoles. Em Lisboa mora com a família em Pedrouços e depois na Avenida de D. Carlos I, n.º. 109, 3º. Esquerdo.
Outubro - Vai a Tavira visitar a "tia" Lisbela Pessoa Machado e outros parentes do lado paterno.

[1902]


Maio - Dia 2, vai com o padrasto, a mãe e os irmãos à Ilha Terceira, nos Açores, onde vive a família materna. Fica 9 dias (7 a 16 de Maio). Escreve a poesia "Quando ela passa" num jornal doméstico que ele próprio cria e dirige chamado A Palavra.
Junho - Dia 26, regressam todos a Durban: a mãe, o padrasto, os irmãos e a criada Paciência que viera com eles. Fernando Pessoa fica em Lisboa.
Setembro - Fernando Pessoa volta sozinho à África do Sul no vapor alemão Herzog, no dia 19.
Outubro - Matricula-se na Commercial School (que funciona em horário nocturno). Tenta escrever romances em inglês.

[1903]

Janeiro - Dia 17, nasce, em Lisboa, o seu irmão João Maria.
Novembro - Culminam os estudos de Fernando Pessoa, que estudava de noite na Commercial School contemporaneamente estudando disciplinas humanísticas de dia, no exame para admissão à Universidade do Cabo da Boa Esperança ("Matriculation Examination"). A sua classificação é medíocre, mas entre 899 candidatos é-lhe atribuído o prémio «Queen Victoria Memorial Prize» pelo melhor ensaio de estilo inglês. O ensaio perdeu-se, mas seria sobre um de 3 tópicos: a) minha concepção do homem e da mulher instruídos, b) superstições comuns, c) jardinagem na África do Sul.

[1904]

Fevereiro - Fernando Pessoa ingressa novamente na Durban High School onde frequenta o equivalente a um primeiro ano universitário. Aprofunda a sua cultura, lendo os clássicos ingleses e latinos. Escreve poesia e prosa em inglês, surgindo os heterónimos Charles Robert Anon e H. M. F. Lecher.
Agosto - Nasce a sua irmã Maria Clara, no dia 16.
Dezembro - Publica no jornal do liceu um ensaio crítico com o títuloMacaulay. Dia 16 faz o «Intermediate Examination in Arts» na Universidade, com bons resultados (os melhores da província do Natal). Mas com este exame terminariam nos seus estudos na África do Sul.

[1905]


Agosto - No dia 20 parte sozinho para Lisboa a bordo do vapor Herzog. Seria agora um regresso definitivo à sua pátria, na verdadeira acepção de que regressava à terra de seu pai. Em Lisboa fica algum tempo na casa da Tia Avó Maria Cunha, em Pedrouços. Depois vai viver com a Tia Anica, irmã da sua mãe, na Rua de São Bento, n.º 19, 2.º Esquerdo. Continua a escrever poesia em inglês.
Outubro - No dia 2 começa a frequentar o Curso Superior de Letras em Lisboa.

[1906]

Começa a escrever páginas para um diário que será sempre errático e ocasional.
Maio-Agosto - Está doente, falhando os exames de Julho na Universidade.
Setembro - No final do mês matricula-se novamente na Universidade, no 1.º ano. Tem grande empenho no estudo da cadeira de filosofia.
Outubro - No início do mês a mãe e o padrasto vêm a Lisboa de férias e Fernando vai viver com eles na Calçada da Estrela, n.º 100, 1.º.
Dezembro - Morre, em Lisboa, no dia 11, a sua irmã Maria Clara.


[1907]

Surge o heterónimo Jean Seul.
Abril - Há uma greve académica que paralisa o Curso. Segundo alguns especialistas Pessoa terá desempenhado um papel de alguma relevância.
Maio - Com o regresso a Durban da sua família, Fernando Pessoa vai viver com a Avó Dionísia e as duas Tias Avós maternas na Rua da Bela Vista à Lapa, n.º 17, 1.º. Entretanto desiste da Faculdade e começa a ler os filósofos gregos e alemães, bem como os decadentes franceses. No dia 10, João Franco instaura a ditadura em Portugal.
Junho - Pessoa abandona o Curso Superior de Letras.
Setembro - Começa a trabalhar na R.G. Dun. No dia 6, morre a sua avó Dionísia, que lhe deixa uma pequena herança.
Pessoa recusa a oferta de bons lugares, porque as obrigações de um horário fixo o impediam de realizar a sua obra literária.

[1908]



Fevereiro - Dia 1 são assassinados o Rei D. Carlos e o Príncipe herdeiro, quando regressavam de Vila Viçosa num carro aberto.
Descreve, em notas autógrafas, as influências que começa a sentir de autores portugueses como Antero, Junqueiro, Nobre e Cesário Verde.
Setembro - Dia 6 começa a escrever o Fausto (é o primeiro fragmento datado, pelo que o início pode ser anterior).


[1909]

Agosto
- Pessoa vai a Portalegre comprar material para montar uma tipografia em Lisboa.
Novembro - É instalada de facto, na Rua da Conceição da Glória, 38 e 49, a «Empresa Ibiz - Tipográfica e Editora», que no entanto mal chega a funcionar. Pessoa vive na Rua da Glória, n.º 4, r/c. Começa a trabalhar como correspondente estrangeiro para escritórios comerciais.

[1910]



Escreve poesia e prosa, em português, inglês e francês. Sofre influência dos simbolistas franceses e de Camilo Pessanha.
Outubro - No dia 5 é proclamada a República.
Dezembro - É fundada, no Porto, a revista «A Águia».


[1911]



Muda-se para o Largo do Carmo, 18-20, 1.º.
Maio - Pessoa aceita traduzir para português uma Antologia de Autores Universais, dirigida por um editor americano e destinada a ser publicada no Brasil.
Junho - Muda-se para a Rua Passos Manuel, 24, 3.º onde vive alguns meses com a sua tia "Anica".
Setembro - Dia 12 o seu padrasto é nomeado cônsul-geral de Portugal na África do Sul e a família muda-se para Pretória. Dia 21 morre a sua tia-avó Maria, na cada da tia "Anica".


[1912]

Janeiro - É fundada, no Porto, o movimento da «Renascença Portuguesa». A «A Águia», dirigida por Teixeira de Pascoaes, torna-se um órgão desse movimento.
Fevereiro - Instala-se numa morada da Rua Passos Manuel.
Abril - Estreia literária de Pessoa, com a publicação em «A Águia» do seu artigo A Nova Poesia Portuguesa Sociologicamente Considerada. Seguido em Maio por Reincidindo... Os dois artigos criam uma grande polémica.
Outubro - Dia 13 Sá-Carneiro parte para Paris, onde se inscreve na Sorbonne. Inicia-se a correspondência entre os dois amigos.Novembro - Pessoa publica, em três números seguidos de «A Águia», o ensaio A Nova Poesia no seu Aspecto Psicológico. No mesmo mês muda-se para a casa da Tia Anica, na Rua de Passos Manuel.


[1913]

Período intenso de criação. Colabora em diversas publicações, como a revista Teatro. Escreve Epithalamium (em Março), Hora Absurda, o drama estático O Marinheiro e Na Floresta do Alheamento(em Agosto). Este ano é também importante como período de intensa discussão e tertúlia com os jovens artistas da geração de Pessoa, que costumavam frequentar cafés em Lisboa.

[1914]



Sá-Carneiro regressa a Portugal. Pessoa continua a sua colaboração com diversas publicações.
Abril - Muda-se para a Rua Pascoal de Melo, 119, 3.º dto.
Março - O dia 8 é para Pessoa o seu «Dia Triunfal». Como ele relata a Adolfo Casais Monteiro, na famosa carta de 13/1/1935 em que fala da génese dos heterónimos: "(...) acerquei-me de uma cómoda alta, e tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida e nunca poderei ter outro assim.". Surgem no êxtase, primeiro o Guardador de Rebanhos de Alberto Caeiro, «O Mestre»; depois a Chuva Oblíqua de Fernando Pessoa; seguido do aparecimento dos discípulos Ricardo Reis e Álvaro de Campos (este com a Ode Triunfal).
Junho - Surge a primeira poesia assinada por Ricardo Reis.
Fernando Pessoa muda-se com a Tia Anica para a Rua Pascoal de Melo. Escreve fragmentos da Teoria da República Aristocrática. No Outono, começam as reuniões na cervejaria Jansen, à Rua Victor Cordon, do grupo de que sairá «Orpheu».
Novembro - A Tia Anica parte para a Suiça, com a filha e o genro. Pessoa abandona a casa da Rua Pascoal de Melo, atravessando de seguida uma crise depressiva. Escreve para o Livro do Desassossego de Bernardo Soares, um seu outro heterónimo. Acaba por romper com o grupo da «Renascença Portuguesa». Aluga um quarto na Rua D. Estefânia, 127, r/c dto (na cada de uma engomadeira).

[1915]

Março - No dia 24, sai o primeiro número de «Orpheu», com colaborações importantes de Pessoa, dando inicio concreto ao movimento modernista em Portugal (sobretudo pela inclusão da "Ode Triunfal" de Álvaro de Campos neste número).
Abril - Colabora em «O Jornal», na rubrica Crónica da vida que passa, desde dia 4 a dia 21.
Maio - Publica o artigo O Preconceito da Ordem. Primeira versão de Antinous. A dia 14 o regime de Pimenta de Castro cai.
Junho - Saí o segundo, e último, número de «Orpheu». Pessoa é agora director.
Julho - «A Capital» publica um artigo contra o grupo de «Orpheu». Campos retalia com uma carta dirigida ao director do jornal em que ironiza com a queda de Afonso Costa de um eléctrico e coloca Pessoa em perigo de vida (a intervenção de Almada Negreiros será essencial para que nada lhe tenha acontecido).
Setembro - Sá-Carneiro, já novamente em Paris, comunica a Pessoa que não há dinheiro para o número 3 de «Orpheu» poder ser publicado. As provas deste número, no entanto, chegam a ser completadas. Completa a tradução do Compêndio de Teosofia de C. W. Leadbeater.
Dezembro - A mãe de Pessoa adoece, em Pretória, com uma apoplexia. Surge a personalidade literária e astrólogo Raphael Baldaia.

[1916]



Março - Pessoa experimenta com o fenómeno da escrita automática. No dia 9 a Alemanha declara guerra a Portugal.
Abril - Publica o poema Hora Absurda. No dia 26, ás 8 horas e 20 minutos, Sá-Carneiro suicida-se em Paris, no Hotel de Nice, ingerindo 5 frascos de estricnina. As causas do suicídio estariam certamente relacionadas - mesmo que essa fosse apenas a maior das causas - com as dificuldades económicas que o afligiam. O último bilhete para Pessoa diz: "Um grande, grande adeus do seu pobre Mário de Sá-Carneiro". Pessoa, numa carta à Tia Anica datada de 24 de Junho de 1916, diz ter sentido mediunicamente a grande crise por que passava Sá-Carneiro em Paris.
Maio - Pessoa muda agora habitualmente de habitação. Frequenta quartos alugados na Rua Antero de Quental, na
Outubro/Novembro - Mora na Rua Almirante Barroso, num quarto contíguo à Leitaria Alentejana.
Dezembro - Mora na Rua Cidade da Horta. Publica os Passos da Cruz.

[1917]


Portugal intervém na Grande Guerra, suscitando comentários escritos de Pessoa.
Abril - Almada Negreiros anuncia o futurismo ás massas, numa conferência, no dia 14, no Teatro República intitulada Ultimatum futurista ás gerações portuguesas do século XX.
Maio - No dia 12, o número 3 da revista "Orpheu" é terminado, mas não chega a ser publicado, por falta de dinheiro.
Junho - Dia 6 recebe uma carta de rejeição de um editor inglês, a quem tinha enviado o livro "The Mad Fiddler".
Julho/Agosto - Funda a firma F.A. Pessoa. Os seus sócios são A. Ferreira Gomes e o Engenheiro Geraldo Coelho de Jesus, Trata-se de um escritório de comissões e consignações na Rua de S. Julião, 45, 2.º.
Novembro - Pessoa colabora no «Portugal Futurista». Passa a viver na Rua Bernardim Ribeiro, 17, 1.º.
Dezembro - Dia 5 há um golpe de estado e Sidónio Pais instaura uma nova ditadura.

[1918]

Abril - Dia 29 morre Santa-Rita Pintor (nome por que era conhecido o pintor Guilherme de Santa-Rita, amigo de Pessoa, um dos elementos precursores do modernismo - a que Pessoa também pertencia por direito próprio - em Portugal). A sua obra é queimada, por respeito à sua última vontade.
Maio - O escritório de representações é trespassado.
Julho - Publica, às suas custas, Antinous e 35 sonnets e envia-os a diversos editores ingleses.
Setembro - A crítica inglesa analisa os poemas ingleses de Pessoa. O «Times» e o «Glasgow Herald» publicam artigos de crítica sobre os volumes Antinous e 35 Sonnets.
Outubro - Morre Amadeo de Sousa Cardoso, amigo de Pessoa, vitimado pela gripe espanhola.
Dezembro - No dia 14 é assassinado em Lisboa o Presidente Sidónio Pais, no qual Pessoa tinha visto o novo Sebastião. Depois da morte de Sidónio, Pessoa passa a considerá-lo como mais um dos falsos D. Sebastião na história nacional. Abre-se, com o assassinato, uma grave crise política. Pessoa mora na Rua Santo António dos Capuchos.

[1919]

Pessoa escreve os Poemas Inconjuntos de Alberto Caeiro, que vão aparecer com a data fictícia de 1913-1914, por coerência diacrónica com a biografia do heterónimo, morto em 1915.
Outubro - Morre no dia 5 o seu padrasto, em Pretória.
Pessoa, morando na Avenida Gomes Pereira, dedica-se à ensaística política. Publica na «Acção», os artigos Como Organizar Portugal e A Opinião Pública.
Agosto - Muda-se para a Rua Capitão Renato Baptista, 3, r/c esq.
Novembro - Conhece, no escritório «Félix, Valladas & Freitas», Ophélia Queiroz, que ia a responder a um anúncio. Pessoa era primo e amigo do sócio Freitas e por isso frequentava o escritório. Muda-se para a Av. Gomes Pereira, em Benfica.

[1920]

Janeiro - Publica na revista inglesa The Athenaeum o poema "Meantime".
Fevereiro - Dia 20 os três meios-irmãos e a mãe de Pessoa embarcam para Lisboa.
Março - É datada de 1 de Março a primeira carta, de resposta, de Fernando Pessoa a Ophélia Queiroz. O namoro começa com esta carta, mas no entanto Pessoa, ao longo de algumas semanas, desde o encontro inicial, já fazia a corte a Ophélia, tendo-a inclusive beijado "apaixonadamente, como um louco". Dia 30, a mãe e os meios-irmãos de Pessoa regressam a Portugal. Pessoa vai viver com eles, dia 29, para a Rua Coelho da Rocha, 16, 1.º. Por esta altura, Pessoa concorre, com o nome de A. A. Crosse, nos concursos do «Times», talvez tentando o golpe de sorte que lhe daria os recursos necessários para casar com Ophélia.
Maio - Os meios-irmãos Luís e João partem para Inglaterra.
Outubro - Atravessa uma grande crise psíquica. Pensa mesmo em internar-se.
Novembro - Interrompe a sua relação com Ophélia. Pessoa diz na carta de ruptura, datada de 29 de Novembro de 1920, que o seu destino pertence a "outra Lei", "subordinado (...) à obediência a Mestres que não permitem nem perdoam".

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