SOU UM EVADIDO
Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.
Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?
Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.
Ser um é cadeia,
Ser eu não é ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.
Ser eu não é ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.
Análise do poema "sou um evadido”
O poema "Sou um evadido" é um poema ortónimo
tardio de Fernando Pessoa, datado de 5/4/1931. Este poema parece tratar do tema
da heteronímia, mas veremos mais em particular analisando cada uma das suas
estrofes.
Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.
Pessoa parece referir-se na primeira estrofe à sua infância. "Logo que nasci / Fecharam-me em mim". Poderá ter a ver com a sua maneira de ser enquanto criança, fechado dentro de si próprio, limitado pelas suas próprias circunstâncias, nomeadamente a necessidade de se proteger emocionalmente face às mudanças que ocorreram na família depois da morte do seu pai e da mudança de todos para a África do Sul, tinha o poeta apenas 7 anos. Mas ele disse que fugiu dessa prisão, Veremos como.
Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?
Na segunda estrofe ele começa um pouco a falar da maneira como fugiu. Equipara o cansaço de estar sempre no mesmo lugar ao cansaço de ser sempre a mesma pessoa.
Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.
Esse cansaço de ser sempre o mesmo, ele curou-o sendo várias pessoas diferentes dentro de si. Isso fez com que se perdesse da sua própria alma. Esta estrofe é de enorme importância, porque nos revela que ele tinha plena consciência de que a sua multiplicação em várias personalidades levaria a uma inevitável "morte psicológica" do seu ser. Ele morreu para muitos nascessem dentro dele próprio. Como consequência, ele nunca mais se conseguiria achar a si mesmo, unitário. Seria para sempre partido em muitos seres - os seus heterónimos, as suas múltiplas personalidades.
Ser um é cadeia,
Ser eu não é ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.
Ser eu não é ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.
Como confirmação do que dizíamos, vemos que na última estrofe o poeta nos diz que "Ser um é cadeia / Ser eu não é ser". "Viverei fugindo" é uma referência absolutamente notável à multiplicação das personalidades e a fuga tem a ver com fugir de si próprio. Ele renega a sua própria identidade em favor de identidades imaginadas, porque acha que é a única forma de sair da prisão em que foi colocado.
Muito Bom
ResponderEliminarMuito obrigado pelo seu comentário.
EliminarGostaria de saber quem é "Unknown", será possível?
Cumprimentos,
Alexandre Barata