domingo, 30 de outubro de 2011

Livros que merecem ser lidos...




A análise da sociedade portuguesa não pode dispensar nem a imaginação teórica contextualizada pela nossa história, nem a actualização científica à luz dos critérios internacionais. A perspectiva transdisciplinar, sempre difícil, é privilegiada.
Poder-se-ía dizer das classes o que alguém disse das bruxas:" Nunca vi nenhuma, mas que as há, há..." Efectivamente, o que é observável no terreno da acção social são processos de luta envolvendo actores concretos, como sindicatos, movimentos sociais, greves, protestos populares, etc., os quais, de um modo geral, não coincidem com a classe social. Elísio Estanque apresenta-nos um trabalho dividido em oito capítulos de grande importância, que começa com a síntese do modelo teórico utilizado e a apresentação das hipóteses e procedimentos metodológicos e conclui com os resultados sobre as práticas, atitudes e representações de classe.
Livro publicado em 1997, pela Edições Afrontamento, da autoria de Elísio Estanque e José Manuel Mendes, tem 265 páginas, e pertence ao "Centro de Estudos Sociais".



Classes e Desigualdades Sociais em Portugal
Um Estudo Comparativo


Í N D I C E

Prefácio

Agardecimentos

Introdução

Capítulo 1
O Modelo Teórico de Erik Olin Wright
1. Os antecedentes e a evolução teórica
2. Reactualização e síntese conceptual
3. As articulações micro/macro
4. Breve apresentação do Projecto Internacional

Capítulo 2
Hipóteses de Trabalho e Metodologia
1. A análise das classes sociais em Portugal
2. Hipóteses de partida sobre a sociedade portuguesa
3. Vantagens e limites da metodologia quantitativa
4. Critérios gerais de construção das variáveis
5. Critérios de elaboração da amostra nacional
6. Aplicação do questionário

Capítulo 3
Breve Caracterização da Amostra
1. Níveis etários e distribuição por sexo
2. Níveis de instrução e distribuição por sexo
3. Sectores da actividade

Capítulo 4
A Estrutura das Localizações de Classe em Portugal
1. Construção dos indicadores
2. Distribuição geral das localizações de classe
3. Nota sobre a estrutura regional das classes
4. A estrutura das localizações segundo o sexo, a idade e níveis de instrução
5. Composição e grau de homogeneidade de classe das famílias
6. Estado e dimensão das empresas
7. Vínculos com a pequena burguesia
8. Níveis de rendimento
Conclusão

Capítulo 5
Mobilidade Social e Permeabilidade das Fronteiras de Classe
1. Breve contextualização
2. Mobilidade social e modelos de análise
3. A mobilidade estrutural
4. A mobilidade intergeracional
5. Permeabilidade das fronteiras de classe no agregado familiar
6. Permeabilidade das fronteiras de classe nas redes de amizade
Conclusão

Capítulo 6
Desigualdade Sexual no Local de Trabalho
1. Modelo de análise
2. Análise comparativa da autoridade segundo o sexo
3. Discussão dos resultados
Conclusão

Capítulo 7
Estruturas de Classe e Consciência de Classe
1. Sobre o conceito de consciência de classe
2. A operacionalização dos indicadores da consciência de classe
3. Grau de identificação com as posições pró-classe operária
4. A tipologia da consciência de classe
5. Análise da determinação da consciência de classe
6. Temporalidades, consciência de classe e identificação de classe
7. Consciência e interesses de classe
Conclusão

Capítulo 8
Práticas e Representações de Classe
1. Classe subjectiva e atitudes políticas
2. Atitudes face ao Estado, problemas sociais e desigualdades sociais
3. Experiências de associativismo e participação em protestos
4. Consumos e práticas de lazer
Conclusão

Conclusão Geral

Bibliografia

Anexo - Questionário

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O Mundo que nos Rodeia: PORTUGAL PODERÁ ADOPTAR MEDIDAS ADICIONAIS



A declaração final da cimeira de líderes da zona euro elogia o trabalho que Portugal está a fazer no programa de ajustamento económico e «convida» Lisboa a vai continuar adoptar novas medidas, se necessário.

A declaração elogia o esforço de Portugal e da Irlanda no cumprimento dos programas de ajustamento ao abrigo da ajuda externa, e «convida os dois países a manter os seus esforços, a manterem-se comprometidos com as metas acordadas e estarem dispostos a tomar quaisquer medidas adicionais necessárias para atingir essas metas».

A declaração diz ainda que «Portugal está a fazer progressos positivos no seu programa e está determinado em continuar a levar a cabo medidas que suportem a sustentabilidade orçamental e melhorar a competitividade».

A declaração, a que os líderes da zona euro chegaram após uma maratona negocial que terminou cerca das 4h horas de Bruxelas (3h horas em Lisboa), anuncia também o acordo quanto ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEF), o fundo de resgate da moeda única.

O FEEF passa a poder fornecer uma protecção de eventuais perdas aos investidores que comprem nova dívida soberana que os 17 países da zona euro emitam.

«A compra deste seguro contra risco será oferecida aos investidores privados como opção, quando comprarem dívida no mercado primário», diz a declaração.

A outra opção para alavancar o poder de intervenção do fundo passa por «maximizar o sistema de financiamento do FEEF com uma combinação de recursos de instituições financeiras públicas e privadas, que podem ser conseguidas através de veículos de titularização».

«Isto aumentará a quantidade de recursos disponíveis para prolongar empréstimos, para recapitalizar os bancos e para comprar obrigações nos mercados primário e secundário», acrescenta a declaração.

O documento permite também ao FEEF utilizar as duas opções em simultâneo, dependendo das circunstâncias do mercado ou do objectivo a atingir.


In, LUSA/SOL

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Às Voltas com a Memória: MARIA LURDES PINTASILGO (n. 18 Jan. 1930; m. 10 Jul. de 2004)


Maria de Lurdes Ruivo da Silva Pintasilgo nasceu na freguesia de São João, Abrantes, a 18 de Janeiro de 1930, filha de Jaime de Matos Pintasilgo (1897-1959), empresário ligado à indústria de lanifícios da Covilhã, e Amélia do Carmo Ruivo da Silva Matos Pintasilgo (1899-1982), doméstica. Foi neta paterna de Jerónimo de Matos Pintasilgo e de Bárbara Saraiva Tavares Matos, e materna de José Ruivo da Silva e de Raquel do Carmo Ruivo da Silva. Foram testemunhas e padrinhos do registo civil de Maria de Lourdes Pintasilgo um dos tios maternos, Augusto Ruivo da Silva, oficial do exército, e a avó Raquel, familiares que acompanharam muito de perto o seu crescimento e que muito a influenciaram. Cresceu numa família alargada, não cristã, agnóstica. Em 1933, nasceu o segundo filho do casal, José Manuel Matos Ruivo da Silva Pintasilgo. José Manuel enveredou pelo jornalismo. Casou com Maria dos Prazeres Rodrigues Gouveia Pintasilgo, tendo falecido em 1985, sem deixar descendentes.
Em 1937, a família de Maria de Lourdes Pintasilgo abandonou Abrantes e instalou-se em Lisboa. Maria de Lourdes Pintasilgo realizou já a instrução primária numa escola particular da Av. Almirante Reis, o Colégio Garrett. Em 1940, ingressou no Liceu D. Filipa de Lencastre. Terminou em 1947 o curso secundário como melhor aluna do liceu, por dois anos consecutivos obteve o Prémio Nacional.
Em 1953, com 23 anos, licenciou-se em Engenharia Químico-Industrial, pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa, numa época em que eram poucas as mulheres que enveredavam pela área da engenharia. Entre os 250 alunos do seu curso, apenas 3 eram mulheres. Com a opção por esta licenciatura, desejava mostrar que o desafio do mundo industrial e a novidade da técnica eram também acessíveis às mulheres.
Entre 1952 e 1956, presidiu à Juventude Universitária Católica Feminina (JUC/F). Foi co-presidente, com Adérito Sedas Nunes, do I Congresso Nacional da Juventude Universitária Católica. A projecção que, entretanto, adquiriu no interior do movimento católico português conduziu à sua eleição, por aclamação, para o cargo de presidente internacional da Pax Romana – Movimento Internacional de Estudantes Católicos (1956 e 1958). Nessa qualidade, ao longo do ano de 1957, presidiu ao I Seminário de Estudantes Africanos, no Gana, à Assembleia-Geral do movimento realizada em El Salvador. Em 1958, presidiu ao Congresso Mundial de Estudantes e Intelectuais Católicos, realizado em Viena de Áustria.
Foi a única mulher que desempenhou o cargo de primeiro-ministro em Portugal, tendo chefiado o V Governo Constitucional em funções de Julho de 1979 a Janeiro de 1980. Foi também a segunda mulher primeiro-ministro em toda a Europa, dois meses depois da tomada de posse de Margaret Thatcher.
Foi galardoada, em 07.03.1986, com o The 1986 Living Legacy Award atribuído pelo Women’s International Center, em San Diego (Califórnia). Recebeu o doutoramento “honoris causa” pela Universidade Católica de Louvaina, em 02.02.1990. Foi agraciada com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo (1980), tornando-se na primeira mulher agraciada nessa Ordem com esse grau; com a Grã-Cruz da Ordem do Infante (10.06.1994) e com a Medalha Machado de Assis pela Academia Brasileira de Letras (13.11.1997).
Faleceu a 10 de Julho de 2004, em Lisboa.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

À Volta com a Economia: SAIBA COMO POUPAR ATÉ 2.100 EUROS NO IRS DESTE ANO



Saiba como poupar até 2.100 euros no IRS deste ano

O calendário está em contagem decrescente para conseguir diminuir a sua factura de IRS, referente aos rendimentos de 2011. As famílias portuguesas têm pouco mais de dois meses para conseguirem recolher o maior montante de despesas possível para serem dedutíveis na factura fiscal. Além das habituais despesas de saúde, educação e habitação existem outras despesas que também podem ser incluídas. No entanto, é melhor conformar-se com uma realidade dura: o próximo reembolso de IRS que receber deverá ser bastante mais magro do que o auferido em anos anteriores – sobretudo devido à introdução de limites máximos nos benefícios fiscais para as famílias com rendimentos a partir do terceiro escalão.
A pedido do Diário Económico, a KPMG elaborou uma simulação para o caso de uma família com dois filhos e um idoso a seu cargo. No total, esta família costuma apresentar todos os anos as seguintes despesas para serem deduzidas no IRS: 3.000 euros em despesas com crédito à habitação; 2.400 euros em encargos com lares, 3.500 euros em aquisição de equipamentos de energias renováveis; 2.500 euros relativos a despesas com educação; 200 euros com seguros de vida e ainda 1.750 euros em prémios entregues em PPR. Em 2010, esta família recebeu um reembolso no valor de 3.513 euros, segundo a simulação da KPMG. No entanto, se esta família reunir este ano exactamente as mesmas facturas, elas só lhe deverão dar um reembolso no valor de 1.624 euros na declaração relativa a 2011. Ou seja, o valor do reembolso cairá 54%.
Uma queda que se explica pelas várias alterações introduzidas pelo anterior executivo. E, neste campo, são muitas as novidades. Uma das mais importantes tem a ver com o estabelecimento de tectos máximos para o conjunto dos benefícios fiscais. Assim, no máximo, os contribuintes poderão deduzir até 100 euros com as várias aplicações que têm benefícios fiscais associados. Este valor vai diminuindo consoante os escalões de rendimentos. Mas há mais alterações. Este ano, os seguros de vida deixaram de poder ser dedutíveis (com excepção dos contribuintes com deficiência). O mesmo acontece com os prémios dos seguros de acidentes pessoais. Já os seguros de saúde - que até ao ano passado eram considerados como deduções - este ano passam a ser consideradas despesas com benefícios fiscais. O mesmo acontece com as facturas relacionadas com a aquisição de equipamentos de energias renováveis. Para muitas famílias, estas alterações vão contribuir bastante para a diminuição do valor dos reembolsos. Isto porque se, no ano passado, os contribuintes poderiam, por exemplo, deduzir até 1.268 euros com seguros de saúde, equipamentos de energias renováveis e PPR, este ano o valor máximo que um contribuinte poderá deduzir com estas despesas será de 100 euros – o tecto máximo para os benefícios fiscais.
Na verdade, se no ano anterior os contribuintes poderiam juntar despesas para abater até 3.400 euros no IRS, este ano, os números mostram que os montantes máximos das deduções e benefícios fiscais que um contribuinte poderá conseguir na declaração de IRS relativa a 2011 rondam os 2.150 euros. Uma situação que será ainda mais gravosa no próximo ano, devido às medidas propostas no Orçamento do Estado para 2012. Conheça nas caixas em baixo quais as principais despesas que poderá deduzir na próxima declaração de IRS.


Tudo o que pode deduzir

Saúde
As despesas com saúde estão entre as principais facturas apresentadas pelas famílias portuguesas. À semelhança do que aconteceu no ano passado, este ano poderá apresentar 30% das despesas efectuadas com saúde, sem limite máximo, desde que essas despesas estejam isentas de IVA ou que tenham uma taxa de IVA reduzida. Poderá também deduzir até 30% das despesas de saúde com IVA à taxa mais elevada (desde que apresente receita médica) até a um limite de 65 euros.


Educação
Para quem tem filhos, uma das formas mais utilizadas para baixar a factura do IRS é através da dedução das despesas relacionadas com a educação. São dedutíveis 30% das despesas efectuadas até a um limite de 760 euros. São aceites, entre outras, facturas com compra de material escolar, mensalidades de jardins-de-infância, escolas ou estabelecimentos de ensino superior. No caso das famílias com mais de três dependentes, a este limite é acrescido um valor de 142,5 euros por cada dependente.


Crédito à habitação
Pode deduzir 30% das despesas com juros e amortizações do crédito à habitação até a um limite de 591 euros. No entanto, este limite pode ser aumentado até 50%, no caso das famílias cujos rendimentos estejam enquadrados dentro do primeiro e segundo escalão do IRS. O que significa que estas famílias poderão deduzir até 886,5 euros com as despesas da casa. Já os contribuintes que se encontrem no terceiro e quarto escalão poderão deduzir respectivamente 709,2 euros e 650 euros com as despesas da casa.


Rendas
Quem não tem casa própria e vive numa casa arrendada também poderá deduzir 30% das rendas pagas ao longo do ano, com o objectivo de baixar a factura de IRS. No total, o fisco aceita deduções até a um valor máximo de 591 euros – trata-se do mesmo valor previsto no ano passado. Para atingir esse montante terá de apresentar despesas no valor 1.970 euros.


Encargos com lares
O fisco também aceita despesas efectuadas com lares, apoio domiciliário e instituições de apoio à terceira idade. Poderá deduzir 25% destas despesas até a um limite de 403,75 euros. Para conseguir ter acesso a este limite máximo terá de efectuar despesas no montante total de 1612 euros.


Pensões de alimentos
Este ano, pela primeira vez, os contribuintes podem deduzir encargos com pensões de alimentos, mas com limites. Para este tipo de despesas serem aceites, o valor tem que estar estipulado pelo tribunal. No total, o fisco aceita 20% destas despesas até a um limite de 1.048 euros por mês. A partir do próximo ano, estas despesas vão ter limites ainda mais restritivos. Segundo a proposta de Orçamento para 2012, o valor total a deduzir ao IRS não pode ultrapassar 419,22 euros/mês.


PPR
Até ao ano passado, os contribuintes que tivessem um plano de poupança reforma ou fossem subscritores de certificados de reforma poderiam deduzir até 20% das entregas feitas nestes planos e beneficiar de um abate no IRS até 400 euros. Estas condições mantém-se, mas o facto de este ano a soma dos benefícios fiscais dedutíveis à colecta não poderem ultrapassar, no máximo, os 100 euros, leva a que o benefício fiscal associado aos PPR seja muito reduzido.


Energias renováveis
Esta é uma das novidades do IRS deste ano. As facturas relacionadas com a compra de equipamentos energéticos deixaram de ser consideradas deduções e passaram a ser benefícios fiscais. E como o executivo colocou um tecto máximo de 100 euros para os contribuintes poderem usufruir no conjunto dos benefícios fiscais, no máximo ser "amigo "do ambiente só lhe permitirá poupar até 100 euros no IRS. O fisco aceita 30% das despesas efectuadas com equipamentos de energias renováveis, obras de melhoria de condições térmicas de edifícios ou a aquisição de veículos exclusivamente eléctricos. Além disso, estas despesas só poderão ser apresentadas uma vez em cada quatro anos.


In, Diário Económico

Às Voltas com a Memória: FLORBELA ESPANCA (n. 08 Dez. 1894; m. 08 Dez. de 1930)


Florbela de Alma da Conceição, “Florbela Espanca”, nasceu em Vila Viçosa, a 8 de Dezembro de 1894. A sua vida, de apenas trinta e seis anos, foi plena, embora tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos que a autora soube transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização, feminilidade e panteísmo.
Filha de Antónia da Conceição Lobo e do republicano João Maria Espanca. O seu pai herdou a profissão do sapateiro, mas passou a trabalhar como antiquário, negociante de cabedais, desenhista, pintor, fotógrafo e cinematografista. Foi um dos introdutores do “Vitascópio de Edison” em Portugal.
Seu pai era casado com Mariana do Carmo Toscano. A sua esposa não pôde dar-lhe filhos. Porém, João Maria resolveu tê-los – Florbela e Apeles, três anos mais novo – com outra mulher, Antónia da Conceição Lobo, de condição humilde. Ambos os irmãos foram registados como filhos ilegítimos de pai incógnito. Entretanto, João Maria Espanca criou-os na sua casa, e Mariana passou a ser madrinha de baptismo dos dois. João Maria nunca lhes recusou apoio nem carinho paternal, mas reconheceu Florbela como a sua filha em cartório só dezoito anos depois da morte dela.
Entre 1899 e 1908, Florbela frequentou a escola primária em Vila Viçosa. Foi naquele tempo que passou a assinar os seus textos Flor d’Alma da Conceição. As suas primeiras composições poéticas datam dos anos 19031904: o poema “A Vida e a Morte”, o soneto em redondilha maior em homenagem ao irmão Apeles, e um poema escrito por ocasião do aniversário do pai. Em 1907, Florbela escreveu o seu primeiro conto: “Mamã!” No ano seguinte, faleceu a sua mãe, Antónia, com apenas vinte e nove anos.
Flor ingressou então no Liceu Masculino André de Gouveia em Évora, onde permaneceu até 1912. Foi uma das primeiras mulheres em Portugal a frequentar o curso secundário. Durante os seus estudos no Liceu, Florbela requisitou diversos livros na Biblioteca Pública de Évora, aproveitando então para ler obras de Balzac, Dumas, Camilo Castelo Branco, Guerra Junqueiro, Garrett. Quando ocorreu a revolução de 5 de Outubro de 1910, Florbela está há dois dias com a família na capital, no Frankfurt Hotel Rossio, mas não se conhecem comentários seus à sua vivência deste dia.
Em 1913 casou-se em Évora com Alberto de Jesus Silva Moutinho, seu colega da escola. O casal morou primeiro em Redondo. Em 1915 instalou-se na casa dos Espanca em Évora, por causa das dificuldades financeiras.
Em 1916, de volta a Redondo, a poetisa reuniu uma selecção da sua produção poética desde 1915, inaugurando assim o projecto Trocando Olhares. A colectânea de oitenta e cinco poemas e três contos serviu-lhe mais tarde como ponto de partida para futuras publicações. Na época, as primeiras tentativas de promover as suas poesias falharam.
No mesmo ano, Florbela iniciou a colaborar como jornalista em Modas & Bordados (suplemento de O Século de Lisboa), em Notícias de Évora e em A Voz Pública, também eborense. A poetisa regressou de novo a esta cidade em 1917. Completou o 11º ano do Curso Complementar de Letras e matriculou-se na faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Foi uma das catorze mulheres entre trezentos e quarenta e sete alunos inscritos.
Um ano mais tarde a escritora sofreu as consequências de um aborto involuntário, que lhe teria infectado os ovários e os pulmões. Repousou em Quelfes (Olhão), onde apresentou os primeiros sinais sérios de neurose.
Em 1919 saiu a sua primeira obra, Livro de Mágoas, um livro de sonetos. A tiragem (duzentos exemplares) esgotou-se rapidamente. Um ano mais tarde, sendo ainda casada, a escritora passou a viver com António José Marques Guimarães, alferes de Artilharia da Guarda Republicana.
Em meados do 1920 interrompeu os estudos na faculdade de Direito. Em 29 de Junho de 1921 pôde finalmente casar-se com António Guimarães. O casal passou a residir no Porto, mas, no ano seguinte, transferiu-se para Lisboa, onde Guimarães se tornou chefe de gabinete do Ministro do Exército.
Em 1922, a 1 de Agosto, a recém fundada Seara Nova publicou o seu soneto “Prince charmant...”, dedicado a Raul Proença. Em Janeiro de 1923 veio a lume a sua segunda colectânea de sonetos, Livro de Sóror Saudade, edição paga pelo pai da poetisa. Para sobreviver, Florbela começou a dar aulas particulares de português.
Em 1925, divorciou-se pela segunda vez. Esta situação abalou-a muito. O seu ex-marido, António Guimarães, abriu mais tarde uma agência, “Recortes”, que coleccionava notas e artigos sobre vários autores. O seu espólio pessoal reúne o mais abundante material que foi publicado sobre Florbela, desde 1945 até 1981. Ao todo são 133 recortes.
Ainda em 1925, a poetisa casou com o médico Mário Pereira Lage, que conhecia desde 1921 e com quem vivia desde 1924. O casamento decorreu em Matosinhos, no Distrito do Porto, onde o casal passou a morar a partir de 1926.
Em 1927 a autora principiou a sua colaboração no jornal D. Nuno de Vila Viçosa, dirigido por José Emídio Amaro. Naquele tempo não encontrava editor para a colectânea Charneca em Flor. Preparava também um volume de contos, provavelmente O Dominó Preto, publicado postumamente apenas em 1982. Começou a traduzir romances para as editoras Civilização e Figueirinhas do Porto.
No mesmo ano, Apeles Espanca, o irmão da escritora, faleceu num trágico acidente de avião. A sua morte foi para a autora realmente dolorosa. Em homenagem ao irmão, Florbela escreveu o conjunto de contos de As Máscaras do Destino, volume publicado postumamente em 1931. Entretanto, a sua doença mental agravou-se bastante. Em 1928 ela teria tentado o suicídio pela primeira vez.
Em 1930 Florbela começou a escrever o seu Diário do Último Ano, publicado só em 1981. A 18 de Junho principiou a correspondência com Guido Battelli, professor italiano, visitante na Universidade de Coimbra, responsável pela publicação da Charneca em Flor em 1931. Na altura, a poetisa colaborou também no Portugal feminino de Lisboa, na revista Civilização e no Primeiro de Janeiro, ambos do Porto.
Florbela tentou o suicídio por duas vezes mais em Outubro e Novembro de 1930, na véspera da publicação da sua obra-prima, Charneca em Flor. Após o diagnóstico de um edema pulmonar, a poetisa perdeu o resto da vontade de viver. Não resistiu à terceira tentativa do suicídio. Faleceu em Matosinhos, no dia do seu 36º aniversário, a 8 de Dezembro de 1930. A causa da morte foi a sobredose de barbitúricos.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Às Voltas com a Memória: ARY DOS SANTOS (n. 07 Dez. 1937; m. 18 Jan. 1984)


Oriundo de uma família da alta burguesia, José Carlos Ary dos Santos, conhecido no meio social e literário por Ary dos Santos, nasceu em Lisboa a 7 de Dezembro de 1937.
Aos catorze anos, a sua família publica-lhe alguns poemas, considerados maus pelo poeta. No entanto, Ary dos Santos revelaria verdadeiramente as suas qualidades poéticas em 1954, com dezasseis anos de idade. É nessa altura que vê os seus poemas serem seleccionados para a Antologia do Prémio Almeida Garrett.
É então que Ary dos Santos abandona a casa da família, exercendo as mais variadas actividades para seu sustento económico, que passariam desde a venda de máquinas para pastilhas até à publicidade. Contudo, paralelamente, o poeta não cessa jamais de escrever e em 1963 dar-se -ia a sua estreia efectiva com a publicação do livro de poemas " A Liturgia do Sangue".
Em 1969, ano que o próprio Ary dos Santos considerava ter marcado decisivamente a sua vida, inicia-se na actividade política ao filiar-se no PCP, participando de forma activa nas sessões de poesia do então intitulado "canto livre perseguido".
Entretanto, concorre, sob pseudónimo, ao Festival da Canção da RTP com os poemas "Desfolhada"e "Tourada", obtendo os primeiros prémios. É aliás através deste campo – o da música que o poeta melhor se tornaria conhecido entre o grande público.
Declamador, gravou os discos «Ary Por Si Próprio» (1970), «Poesia Política» (1974), «Bandeira Comunista» (1977) e «Ary por Ary» (1979), entre outros. Publicou ainda os volumes Insofrimento In Sofrimento (1969), Fotos-Grafias (1971), Resumo (1973), As Portas que Abril Abriu (1975), O Sangue das Palavras (1979) e 20 Anos de Poesia (1983). Em 1994, foi editada Obra Poética, uma colectânea das suas obras.
Personalidade entusiasta e irreverente, muitos dos seus textos têm um forte tom satírico e até panfletário, anticonvencional, contribuindo decisivamente para a abertura de novas possibilidades para a música popular portuguesa.
Autor de mais de seiscentos poemas para canções, Ary dos Santos fez no meio muitos amigos. Gravou, ele próprio, textos ou poemas de e com muitos outros autores e intérpretes e ainda um duplo álbum contendo O Sermão de Santo António aos Peixes do Padre António Vieira.
À data da sua morte tinha em preparação um livro de poemas intitulado As Palavras das Cantigas, onde era seu propósito reunir os melhores poemas dos últimos quinze anos, e um outro intitulado Estrada da Luz – Rua da Saudade, que pretendia fosse uma autobiografia romanceada.
O poeta deixou-nos a 18 de Janeiro de 1984. Postumamente, o seu nome foi dado a um largo do Bairro de Alfama, descerrando-se uma lápide evocativa na casa da Rua da Saudade, onde viveu praticamente toda a sua vida.
Ainda em 1984, foi lançada a obra VIII Sonetos de Ary dos Santos, com um estudo sobre o autor de Manuel Gusmão e planeamento gráfico de Rogério Ribeiro, no decorrer de uma sessão na Sociedade Portuguesa de Autores, da qual o autor era membro.

O Mundo que nos Rodeia: A Lenga-lenga da vida


A LENGA-LENGA DA VIDA


Entre sonhos e realidades,
Entre fantasias e desilusões,
Assim, caminho pela estrada da vida!

Paro e penso,
Mas que lenga-lenga,
A vida, o sonho, o mundo.

Talvez um dia pensasse,
Talvez um dia sonhasse,
Que teria o mundo ao meu jeito,
Justo, imparcial, solidário!

Mas que lenga-lenga,
A vida, o sonho, o mundo,

Outrora, os dias acabavam,
Sempre com alegria, esperança,
Dedicação…confiantes!

Agora, mas que lenga-lenga,
O sonho desapareceu,
A alegria morreu,
A esperança escondeu-se.

A vida percorre, solta e sem sentido,
Nesta lenga-lenga da vida,
Longa, desesperante,
cáustica e enervante,
Nesta lenga-lenga da vida.

in, José Alexandre Barata

domingo, 23 de outubro de 2011

O Mundo que nos Rodeia: Bem-vindos ao país dos Trabalhadores Pobres


Portugal tem 2,5 milhões de trabalhadores que ganham entre 700 e 800 euros. As medidas de austeridade vão transformá-los em novos pobres.
O Portugal pós-Orçamento de Estado para 2012 vai ver reforçada uma das suas singularidades no espaço europeu: os trabalhadores pobres. Descontam, entram e saem do trabalho todos os dias a horas certas e até têm contratos sem termo, mas não ganham o suficiente para cobrir as despesas básicas.
Apesar disso, e porque têm rendimentos mensais superiores aos 434 euros per capita que o Instituto Nacional de Estatística (INE) considera para efeitos de demarcação da linha de pobreza, não são elegíveis em termos de prestações sociais.
Em 2009, os chamados working poor perfaziam 12% dos 1,8 milhões de portugueses em risco de pobreza. A estatística é do INE e é a mais recente disponível. Em 2010, ninguém sabe quantos eram. Quantos serão em 2012? Nenhum dos especialistas ouvidos pelo PÚBLICO arrisca uma previsão, mas todos convergem numa certeza: a pobreza vai agudizar-se nos próximos meses e anos, muito além da sua definição estatística, principalmente à custa dos desempregados de longa duração e das famílias trabalhadoras pobres.
 A estas o mais certo é juntarem-se agora os cerca de 2,5 milhões de trabalhadores cujos salários andam entre os 700 e os 800 euros.
 "O país vai assistir a um crescimento das famílias-sanduíche: os dois membros do casal trabalham a tempo inteiro, e por isso estão fora da malha de protecção do Estado social, mas não ganham que chegue para fazer face às despesas", vaticina Pedro Adão e Silva, professor de Sociologia do ISCTE.
Temos então que as famílias vão recuar "20 ou 30 anos" em termos de rendimentos. Mas vão ficar pior do que nessa altura, segundo Adão e Silva: "Este retrocesso tem contornos novos, porque do ponto de vista da riqueza vamos recuar esses anos, mas mantendo uma estrutura de despesas fixas que não tem nada a ver com a do passado: as pessoas hoje gastam muito mais com a casa, a escolaridade dos filhos, a electricidade, o gás, a água, o carro, a televisão e mesmo a Internet, que se tornou obrigatória até para preencher o IRS."
 Ainda o diagnóstico actual, nas contas de Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP-IN: "Os números de há dois anos diziam-nos que 9% dos trabalhadores recebiam o salário mínimo nacional ou menos. Mas a tendência era para uma aceleração muito grande e, neste momento, creio que serão muitos mais. Depois, nos sectores da têxtil, vestuário e calçado, a maior parte das pessoas ganha três, quatro ou dez euros acima do salário mínimo, uma ninharia." "Na maior parte dos países europeus, quem tem um trabalho está imune à pobreza, porque o salário liberta e autonomiza. Em Portugal, não", reforça ainda Pedro Adão e Silva.
 O Governo poupou estes working poor a boa parte das medidas de austeridade. Mas, como lembra Sérgio Aires, da Rede Europeia Antipobreza, isto não faz com que consigam fugir ao aumento do custo de vida. "Não lhes é possível chegar a um supermercado e apresentar a declaração de IRS para obter desconto no arroz." Mas estes até são os que estarão mais bem preparados para lidar com o que aí vem, diz Aires: "São os remediados crónicos. Estão habituados."
Em piores lençóis ficará a fasquia acima. "A mediana salarial em Portugal está entre os 700 e os 800 euros, ou seja, metade dos trabalhadores ganha no máximo isso", diz Pedro Adão e Silva. Estes, sim, serão os mais fustigados pelos ventos de austeridade. Aumenta o IVA, os transportes, a electricidade, as taxas moderadoras, o IMI das casas. Reduzem-se as deduções fiscais, os subsídios de Natal e, em muitos casos, o que seja retribuição além do salário base. "No sector privado, estas retribuições representam 25% da remuneração. Ora, tudo isso está a desaparecer das folhas de pagamento de forma muito acelerada", enfatiza o secretário-geral da CGTP-IN.

Pagar as facturas

Num país com 4,9 milhões de empregados, temos quase 2,5 milhões de trabalhadores encaixados nesta categoria da mediana salarial. "Se o emprego de um deles falha, a situação entra em colapso", diz Sérgio Aires. Às portas da Deco bateram, entre Janeiro e Setembro, 17 mil novas famílias. Aos habituais pedidos de ajuda para reestruturação dos créditos somam-se novas situações. "Já há muita gente nesta faixa de rendimentos com dificuldade em pagar as facturas da água, da luz, da televisão por cabo...", conta Natália Nunes, desta associação de defesa dos consumidores.
 Muitos dos que recorrem à Deco estão também a iniciar a via-sacra dos centros de emprego para se juntarem aos 554 mil desempregados que aparecem no boletim de Setembro do IEFP (675 mil, na estimativa do INE). Dá uma taxa de 12,1%. Pior: dos mais de 550 mil desempregados, 46% não tinham direito a subsídio. Acresce que no Orçamento do Estado para 2012, o Governo admite que o desemprego possa atingir os 13,4%. Isso dá entre 60 e 70 mil novos desempregados. A partir de 2012, a cumprir-se o memorando da troika, o valor do subsídio não poderá exceder 1050 euros. Ao fim de 18 meses acaba-se, e, após o primeiro ano, as prestações sofrem um corte de 10%. Para Adão e Silva, a conjugação destes factores trará uma realidade nova ao país. "Ter muitos desempregados sem protecção é uma novidade relativa para o país e vai criar um enorme grupo de novos pobres."
O facto de ser desempregado vai transformar-se em sinónimo de ser pobre para milhares de portugueses, concorda Bruto da Costa, coordenador do estudo Um Olhar sobre a Pobreza. "Entre os pobres, a percentagem de desempregados não era muito elevada." Doravante, "vai haver gente que nunca foi pobre e que, ao cair no desemprego, passará a integrar esse grupo, porque não cumprirá os requisitos para ter direito ao subsídio, porque o subsídio é insuficiente para se sustentar e à sua família ou porque o prazo do subsídio expirou".

"A comer pior..."

Nesta descida da escala social, há outros dois grupos a considerar: a classe média alta e os pensionistas. Estes porque, "não sendo os mais afectados por estas medidas", como lembra Adão e Silva, verão congelada a sua trajectória de afastamento da pobreza. Não é pouco se nos lembrarmos que a diminuição da pobreza no país se tem alcandorado na melhoria da situação dos idosos. Quanto à classe média ou média alta, o puzzle é mais complexo. "São pessoas que, apesar de terem salários elevados, acima e muito acima dos 1500 euros, tinham o seu orçamento todo organizado em função do rendimento e que agora se vêem com cortes no salário, comissões, horas extraordinárias que deixaram de ser pagas", observa Natália Nunes, habituada a refazer as contas de "professores, médicos, advogados e até juízes". É o resultado do fortíssimo endividamento das famílias. "Mesmo aqui, já há muitas pessoas a comer pior para não ter de entregar a casa ao banco", reforça Bruto da Costa.
Entre habitação e créditos ao consumo, as famílias portuguesas deviam à banca cerca de 129 mil milhões de euros, dados do Banco de Portugal referentes a Agosto. Nesse mês, o crédito malparado ascendia aos 3,3 mil milhões. Com o aumento do desemprego, não é preciso nenhuma bola de cristal para perceber que a cobrança duvidosa vai agravar-se.
"Estas famílias não caem na pobreza em sentido absoluto, mas perdem a possibilidade de manter o nível de vida que tinham e isso é um problema real para muitas famílias", diz ainda Bruto da Costa, acusando o Estado de se ter demitido da sua função reguladora, quando optou por ignorar o problema do sobreendividamento das famílias. "O Governo podia ter impedido isso e nada fez."
Bruto da Costa acha que a discussão sobre o novo Orçamento está a passar ao lado do essencial. "É um documento que aponta para outro modelo de sociedade, com menos Estado, e isso não está a ser discutido."
Adão e Silva não se importa de lançar o mote. "A nossa democracia, como todas as europeias do pós-guerra, assentou na integração social das classes médias. Pensar que é possível desmantelar as condições económicas e sociais que estiveram na génese da legitimação política do regime sem que isso tenha consequências é um erro de enormes proporções", atira. E conclui: "Ao cortar as aspirações sociais ascendentes da classe média, que são um factor de legitimidade da democracia, o próprio Governo está a criar uma outra crise além da social: a crise da legitimidade política."

In, PUBLICO, 23.10.2011

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Às Voltas com a Memória: MOTA PINTO (n. 25 Jul. 1936; m. 07 Mai. 1985)


Carlos Alberto da Mota Pinto, nasceu no Pombal, a 25 de Julho de 1936. Foi jurista e político português.
Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde se licenciou e obteve o grau de doutor em Ciências Jurídicas, foi um teórico influente no campo do Direito Civil. Nessa área, a sua obra mais conhecida é o manual Teoria Geral do Direito Civil. Leccionou também na Universidade Católica Portuguesa, bem como em algumas universidades estrangeiras.
Após o 25 de Abril ajudou a fundar, juntamente com Sá Carneiro, Pinto Balsemão e Magalhães Mota, o Partido Popular Democrático (actual PSD).
Pelo mesmo partido, foi eleito deputado à Assembleia Constituinte e à Assembleia da República (cujo nome é, aliás, devido a uma proposta legislativa por si apresentada, durante os trabalhos da Constituinte). Foi igualmente presidente do Grupo Parlamentar do PSD.
Ao partido deu também o slogan «Hoje somos muitos, amanhã seremos milhões», incluído no seu discurso no 1º comício do PSD, realizado no Pavilhão dos Desportos de Lisboa, em 1974. Entrou em ruptura com Sá Carneiro no Congresso de Aveiro, em Dezembro de 1975, tendo-se posteriormente reconciliado com ele e com o partido. À data da morte de Sá Carneiro era mandatário nacional da candidatura presidencial do General Soares Carneiro.
Foi igualmente ministro do Comércio e Turismo no I Governo Constitucional (1976-1977), 152º primeiro-ministro do IV Governo Constitucional (1978-1979), nomeado por iniciativa presidencial de Ramalho Eanes, e ainda vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa do IX Governo Constitucional (1983-1985).
Liderou a Comissão Política Nacional do PSD, entre 1984 e 1985. Faleceu subitamente nesse mesmo ano, em Coimbra, a 07 de Maio de 1985, dias antes da realização do congresso, na Figueira da Foz, que daria a chefia do partido a Cavaco Silva.
Casou com Maria Fernanda Cardoso Correia, de quem teve três filhos, Paulo Cardoso Correia da Mota Pinto, Nuno Cardoso Correia da Mota Pinto (1970) e Alexandre Cardoso Correia da Mota Pinto (1971), casado com Joana Ferraz.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Às Voltas com a Memória: VASCO GONÇALVES (n. 03 Mai. 1922; m. 11 Jun. 2005)



Vasco dos Santos Gonçalves, nasceu a 3 de Maio de 1922, em Lisboa, foi um militar (General) e um político da segunda metade do século XX.
Ao tempo coronel, surgiu no Movimento dos Capitães em Dezembro de 1973, numa reunião alargada da sua comissão coordenadora efectuada na Costa da Caparica. Coronel de engenharia, viria a integrar a Comissão de Redacção do Programa do Movimento das Forças Armadas. Passou a ser o elemento de ligação com Costa Gomes.
Membro da Comissão Coordenadora do MFA, foi, mais tarde, primeiro-ministro de sucessivos governos provisórios (II a V). Tido geralmente como pertencente ao grupo dos militares próximos do PCP, perdeu toda a sua influência na sequência dos acontecimentos do 25 de Novembro de 1975.
Como primeiro-ministro, foi o mentor da reforma agrária, das nacionalizações dos principais meios de produção privados (bancos, seguros, transportes públicos, Siderurgia, etc.), do salário mínimo para os funcionários públicos, do subsídio de férias (13º mês) e subsídio de Natal.
O seu protagonismo durante os acontecimentos do Verão Quente de 1975 levou os apoiantes do gonçalvismo, na pessoa de Carlos Alberto Moniz, a inclusive comporem uma cantiga em que figurava o seu nome: «Força, força, companheiro Vasco, nós seremos a muralha de aço!».
Morreu a 11 de Junho de 2005, aos 84 anos, quando nadava numa piscina, em casa de um irmão em Almancil, aparentemente devido a uma síncope cardíaca.