quarta-feira, 27 de julho de 2011

O Mundo que nos Rodeia: INDICADORES SOCIAIS 2009 - FAMÍLIAS



Publicado pelo INE, apresentamos alguns indicadores de carácter social e que permite traçar um retrato social da população residente em Portugal, bem como propiciar uma leitura dos principais desenvolvimentos nos últimos anos neste domínio.

FAMÍLIAS

Manutenção da proporção de famílias com filhos
Menos casamentos e em idade mais avançada
Novo aumento nas idades médias das mulheres ao nascimento de filhos


A proporção de famílias com filhos manteve-se perto dos 56% do total de famílias, aumentando no entanto a proporção de famílias com um filho, passando de 31,3%, em 2008, para 32,2, em 2009.

O número de casamentos também diminuiu em cerca de 6,6% relativamente ao ano anterioir, facto este que deveu-se tanto aos casamentos religiosos (-9,4%), como aos casamentos só civis (-4,3%).

Por outro lado, observou-se um novo aumento nas idades médias das mulheres ao nascimento do primeiro filho, situando-se em 28,6 anos.

A taxa bruta de divórcio manteve-se nos 2,5%, porém, as idades médias de divórcio passou de 41,9 para 42, 2 anos, no caso dos homens, e de 39,6 para 40,1 anos, no caso das mulheres.

Em termos evolutivos:

A dimensão médias da família apresentou uma tendência de diminuição, com um aumento do número de famílias constituídas por uma e duas pessoas e um decréscimo das constituídas por quatro e mais pessoas.

1) A proporção de famílias com filhos diminuiu 3 pontos percentuais neste período
2) O número de casamentos diminuiu 24,8%; verificou-se um aumento da idade média ao primeiro casamento, que no caso dos homens passou de 28,4 para 30,2 anos, e no das mulheres de 26,8 para 28,6 anos.
3) As mulheres têm filhos mais tarde, a idade média da mulher ao nascimento do primeiro filho passou de 27,4 para 28,6 anos e ao nascimento de um filho de 29,2 para 30,3 anos.



No próximo trecho, abordarei os indicadores relacionados com a EDUCAÇÃO.

Fonte: INE

terça-feira, 26 de julho de 2011

O Mundo que nos Rodeia: INDICADORES SOCIAIS 2009 - POPULAÇÃO



Publicado pelo INE, apresentamos alguns indicadores de carácter social e que permite traçar um retrato social da população residente em Portugal, bem como propiciar uma leitura dos principais desenvolvimentos nos últimos anos neste domínio.

POPULAÇÃO

Ligeiro crescimento da população residente em Portugal
Decréscimo do número de nados-vivos
Aumento do saldo migratório
Manutenção da tendência de envelhecimento demográfico

Aumento da população residente em Portugal, sendo 52% de mulheres e 48% de homens.

Para este acréscimo populacional concorreram um saldo migratório positivo, reflectido na taxa de crescimento migratório de 0,14%.

Verificou-se também um decréscimo de 4,9% no número de nados-vivos de mães residentes em Portugal, face ao ano de 2008, situando-se agora em 9,4 nados-vivos por cada mil habitantes, o que corresponde a  uma queda do índice sintético de fecundidade (número médio de nados-vivos por mulher em idade fecunda), o qual se situa em 1,32 crianças por mulher (1,37 em 2008).

O número de indivíduos com 65 ou mais anos por cada 100 indivíduos com idade dos 0 - 14 anos (Índice de envelhecimento), passou de 115, em 2008, para 118, em 2009.

Os indicadores demográficos relativos ao envelhecimento da população e à renovação da população em idade activa, elaborados com base no cenário central das projecções demográficas 2010-2060, evidenciam, por um lado, a continuação do envelhecimento da população e, por outro, uma baixa no índice de renovação da população em idade activa até 2040, iniciando-se a partir daí alguma recuperação.




No próximo trecho, abordarei os indicadores relacionados com as FAMÍLIAS.

Fonte: INE

terça-feira, 19 de julho de 2011

Os "Nossos" SOCIÓLOGOS...


BOAVENTURA SOUSA SANTOS

Boaventura de Sousa Santos nasceu em Coimbra, a 15 de Novembro de 1940. É Doutorado em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale (1973) e Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Distinguished Legal Scholar da Universidade de Wisconsin-Madison e Global Legal Scholar da Universidade de Warwick. É também Director do Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e do Centro de Documentação 25 de Abril da mesma Universidade de Coimbra.



FORMAÇÃO ACADÉMICA

1958 - 63 Licenciatura em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, 17 valores (Prémio Prof. Beleza dos Santos para o melhor aluno de Direito Criminal)

1963 - 64 Curso de pós-graduação, Universidade Livre de Berlim

1964 - 65 Curso Complementar de Ciências Jurídicas da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, 18 valores

1969 - 73 Universidade de Yale, E.U.A.

1970 LL.M., Yale (Mestrado em "As Estruturas Sociais do Desenvolvimento e o Direito")

1971 Universidade de Denver: Curso sobre Métodos de Investigação nas Ciências Sociais

1973 J.S.D., Yale (Doutoramento em Sociologia do Direito)


EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA

1964 - 69 Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra: Assistente

1972 Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro: Professor Visitante (Set. Dez.) encarregado da regência de um seminário sobre Sociologia do Direito

1973 - 80 Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra: Professor Auxiliar encarregado da regência da cadeira de Introdução e Metodologia das Ciências Sociais e da coordenação do Núcleo de Ciências Sociais

1974 Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro: Professor Visitante (Agosto) encarregado da regência de um seminário sobre Sociologia do Direito

1974 Centro Intercultural de Documentación (Instituto de Ivan Illich), Cuernavaca, (Setembro) México: coordenador de um seminário sobre Direito e Revolução Social

1975 Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra: encarregado da regência da cadeira de Sociologia do Direito

1980 - 87 Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra: Professor Associado encarregado da regência da cadeira de Introdução e Metodologia das Ciências Sociais e da coordenação do Núcleo de Ciências Sociais

1982 Universidade de Wisconsin - Madison: Eduard Larocque Tinker Visiting (Agosto - Dez.) Professor, encarregado da regência de um seminário sobre Sociologia do Direito

1983 Universidade de Wisconsin - Madison: Eduard Larocque Tinker Visiting (Agosto - Dez.) Professor

1987 - 88 Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra: Professor Associado com agregação encarregado da regência da cadeira de Introdução e Metodologia das Ciências Sociais e da coordenação do Núcleo de Ciências Sociais

1988 Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra: Professor Catedrático encarregado da regência da cadeira de Introdução e Metodologia das Ciências Sociais e da coordenação do Núcleo de Ciências Sociais

1989 Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra: regência das cadeiras de Teorias Sociológicas I e II e Sociologia Política da licenciatura em Sociologia

1989-90 Instituto de Ciências do Trabalho e da Empresa, Mestrado em Sociologia. Professor Visitante encarregado da regência de um seminário sobre “Politics and Society in Contemporary Portugal”

1990 Professor no Curso de Verão no Instituto Internacional de (Julho) Sociologia Política de Oñati

1990 Universidade de Wisconsin-Madison. Joint appointment, (Ag-Nov) Departmento de Sociologia e Institute for Legal Studies. Brittingham Professorship. Seminar sobre "State and Economy in the Semiperiphery: Portugal in the 1990's".

1991 Universidade de Wisconsin-Madison. Professor Visitante. Agosto-Dezembro de cada ano.

1994 Post-Doctoral Training and Research Program in the “Historical (Maio) Social Sciences: Beyond Multidisciplinarity, Towards Unidisciplinarity”, dirigido pelo Prof. Immanuel Wallerstein, Fernand Braudel Center (Binghamton) e Maison des Sciences de l’Homme (Paris). Professor Visitante.

1995 Professor Visitante da Universidade de São Paulo, Departamento (Set.3-Out.11) de Sociologia. Seminário de Pós-Graduação. Título: As Ruínas Emergentes: Da Modernidade à Transição Paradigmática.

1997 University of Wisconsin-Madison. Distinguished Legal Scholar no Institute for Legal Studies.

2007 Global Legal Scholar da Universidade de Warwick.


PUBLICAÇÕES
Livros – Autor

1963 Leis da Família. Coimbra, Almedina.

1965 O Conflito de Deveres em Direito Criminal. Trabalho apresentado para exame do Curso Complementar de Ciências Jurídicas da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.

1968 Crimes cometidos em estado de embriaguês, Centro de Direito Comparado Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.

1974 Law Against Law: Legal Reasoning in Pasargada Law, Cuernavaca (México), CIDOC.

1975 Democratizar a Universidade. Universidade para quê para quem? Coimbra, Centelha.

1984 A Justiça Popular em Cabo Verde. Estudo Sociológico, Centro de Estudos Sociais, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

1986 "Um discurso sobre as Ciências", Oração de Sapiência. Reitoria da Universidade de Coimbra.

1988 O discurso e o Poder. Porto Alegre, Sérgio Fabris.

1988 Um discurso sobre as ciências. Porto: Afrontamento (15ª edição). Também publicado no Brasil, São Paulo: Editora Cortez, 2003, (7ª edição).

1989 Introdução a uma ciência pós-moderna. Porto: Afrontamento (6ª edição). Também publicado no Brasil, São Paulo: Graal (3ª edição); e em Espanha, Valência: Denes Editorial, Centro de Recursos i Educació Contínua, 2003 sob o titulo Un discurs sobre les ciènces. Introducció a una ciência postmoderna.

1990 Estado e Sociedade em Portugal (1974-1988). Porto: Afrontamento (3ª edição)

1991 Sociologia del Derecho y del Estado. Bogotá: ILSA

1991 Estado, Derecho y Luchas Sociales. Bogotá: ILSA

1991 Justiça e Comunidade em Macau. Administração e Estruturas Comunitárias Perante os Problemas Sociais, Coimbra, Centro de Estudos Sociais (relatório final de investigação).

1994 Pela Mão de Alice: O Social e o Político na Pós-Modernidade, Porto: Afrontamento, (8ª edição). Prémio Pen Club Português 1994 (Ensaio). Também publicado no Brasil, São Paulo: Editora Cortez, 1995 (12ª edição). Também publicado na Colômbia, Bogotá: Ediciones Uniandes, 1998 (3ª edição em 2011).

1995 Toward a New Common Sense: Law, Science and Politics in the Paradigmatic Transition, New York: Routledge.

1998 La globalización del derecho: los nuevos caminos de la regulación y la emancipación. Bogotá: ILSA, Universidad Nacional de Colômbia.

1998 Reinventar a democracia. Lisboa: Gradiva (2ª edição em 2002). Também publicado em Espanha, Madrid: Sequitur, 1999.

2000 A Crítica da Razão Indolente: Contra o Desperdício da Experiência. Porto: Afrontamento (2ª edição). Também publicado no Brasil, São Paulo: Editora Cortez (8ª edição) e em Espanha, Bilbao: Desclée de Brouwer (2003).

2002 Democracia e participação. O caso do Orçamento Participativo de Porto Alegre. Porto: Afrontamento. Também publicado em Espanha, Mataró (Barcelona): Ediciones de Intervención Cultural/El Viejo Topo, 2003.

2002 Toward a New Legal Common Sense: law, globalization, and emancipation. Londres: Butterworths.

2003 La caída del Angelus Novus: ensayos para una nueva teoría social y una nueva práctica política. Bogotá: Instituto Latinoamericano de Servicios Legales Alternativos: Universidad Nacional de Colombia.

2003 Il Forum Sociale Mondiale: Verso una globalizzazione antiegemonica. Troina: EdCittà Aperta Edizioni.

2004 A Universidade no Séc. XXI: Para uma Reforma Democrática e Emancipatória da Universidade. São Paulo: Cortez Editora (2ª edição em 2005).

2004 Reinventar la democracia. Reinventar el estado. Quito: Abya-Yala. Também publicado na Argentina, Buenos Aires: CLACSO, 2005, e em Cuba, Havana: Editorial José Martí, 2005.

2004 Democracia y participación. El ejemplo del presupuesto participativo. Quito: Abya-Yala.

2004 Vers un nouveau sens commun juridique: Droit, science et politique dans la transition paradigmatique. Paris: Librairie Général de Droit et Jurisprudence.

2005 Fórum Social Mundial: Manual de Uso. São Paulo: Cortez Editora. Também publicado em Portugal, Porto: Edições Afrontamento, y en Espanha, por Icaria.

2005 El milenio huérfano. Ensayos para una nueva cultura política. Madrid: Trotta.

2006 Conocer desde el Sur. Para una cultura política emancipatória. Lima: Fondo Editorial de la Facultad de Ciencias Sociales de la Universidad Mayor de San Marcos. Também publicado na Bolivia, por Plural Editores, 2008; Santiago de Chile: Editorial Universidad Bolivariana, 2008.

2006 Renovar la teoría crítica y reinventar la emancipación social (Encuentros en Buenos Aires). Buenos Aires: CLACSO.

2006 La universidad popular del siglo XXI. Lima: Fondo Editorial de la Facultad de Ciencias Sociales de la Universidad Mayor de San Marcos. Também publicado no México, pela Universidad Nacional Autónoma de México, Centro de Investigaciones Interdisciplinares en Ciencias y Humanidades.

2006 A gramática do tempo. Para uma nova cultura política. Porto: Afrontamento. Também publicado no Brasil, São Paulo: Editora Cortez, 2006 (3ª edição em 2010).

2006 The Rise of the Global Left. The World Social Forum and Beyond. Londres: Zed Books.

2007 La universidad en el siglo XXI. Para una reforma democrática y emancipatória de la universidad. La Paz: Plural Editores. Também
publicado na Venezuela, Centro Internacional Miranda, Ministerio del Poder Popular para la Educación Superior, 2008.

2007 La reinvención del Estado y el Estado plurinacional.Santa Cruz de la Sierra: CENDA, CEJIS, CEDIB, Bolivia.

2007 Renovar a teoria crítica e reinventar a emancipação social. São Paulo: Boitempo Editorial.

2007 Para uma revolução democrática da justiça. São Paulo: Editora Cortez..

2008 Pensar el Estado y la sociedad: desafíos actuales. La Paz: CLACSO, CIDES-UMSA, Muela del Diablo Editores, Comuna.

2008 Diritto ed emancipazione sociale. Troina: EdCittà Aperta Edizioni.

2009 Sociología Jurídica Crítica. Para un nuevo sentido común en el derecho. Madrid: Editorial Trotta. Também publicado na Colômbia, por ILSA:

2009 Una Epistemologia del Sur. La reinvención del Conocimiento y la Emancipación Social. Buenos Aires: Siglo XXI Editores, CLACSO.

2009 Pensar el Estado y la sociedad: desafíos actuales. Buenos Aires: CLACSO Ediciones, Waldhuter Editores.

2010 Refundación del Estado en América Latina. Perspectivas desde una epistemología del Sur. Lima: Instituto Internacional de Derecho y Sociedad; Programa Democracia y Transformación Global. Também publicado na Venezuela, pelas Ediciones IVIC - Instituto Venezuelano de Investigaciones Cientificas, na Bolívia por Plural Editores, e na Colômbia, por Siglo del Hombre Editores (2ª edição em 2011).

2010 Descolonizar el saber, reinventar el poder. Montevideo: Ediciones Trilce.

2010 La universidad en el siglo XXI. Para una reforma democrática y emancipatoria de la universidad. Montevideo: Ediciones Trilce.

2011 Portugal. Ensaio contra a autoflagelação. Coimbra: Almedina, 2011


PRÉMIOS E CONDECORAÇÕES

1994 Prémio Pen Club Português 1994 (Ensaio).

1996 Grande Oficial da Ordem Militar de Sant'iago de Espada, concedido pelo Presidente da República.

1996 Título de Cidadão Paulistano, concedido pela Câmara Municipal de São Paulo, Brasil

1996 Grande Oficial da Ordem de Rio Branco, concedido pelo Presidente da República Federativa do Brasil.

1996 Prémio Gulbenkian de Ciência 1996.

1998 Prémio Bordalo da Imprensa - Ciências 1997

2001 Prémio JABUTI (Brasil) - Área de Ciências Humanas e Educação.

2004 Prémio Euclides da Cunha da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro.

2005 Prémio “Reconocimiento al Mérito”, concedido pela Universidade Veracruzana, México.

2006 Prémio de Ensaio Ezequiel Martínez Estrada 2006, da Casa de las Américas, Cuba.

2007 Menção Honrosa do Prémio Libertador ao Pensamento Crítico - 2006, Ministério da Cultura da Venezuela.

2009 Prémio Adam Podgórecki, atribuído por Associação Internacional de Sociologia, Julho.

2009 Grã-Cruz da Ordem do Mérito Cultural de 2009, atribuído pelo Governo Federativo do Brasil, Novembro.

2010 Menção Honrosa do Prémio Libertador ao Pensamento Crítico - 2009, Ministério da Cultura da Venezuela.

2010 Prémio Fundación Xavier de Salas, Espanha.

2010 Premio México Ciencia y Tecnologia 2010, atribuído pelo Consejo Consultivo de Ciências da Presidência da República do México.

2011 Harry J. Kalven Jr. 2011, pela Law and Society Association
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quinta-feira, 14 de julho de 2011

O Poeta é um fingidor



CHOVE. QUE FIZ EU DA VIDA?

Chove. Que fiz eu da vida?
Fiz o que ela fez de mim…
De pensada, mal vivida…
Triste de quem é assim!

Numa angústia sem remédio
Tenho febre na alma, e, ao ser,
Tenho saudade, entre o tédio,
Só do que nunca quis ter…

Quem eu pudera ter sido,
Que é dele? Entre ódios pequenos
De mim, estou de mim partido.
Se ao menos chovesse menos!


ANÁLISE DO POEMA “CHOVE. QUE FIZ EU DA VIDA?”


O poema que se inicia com "Chove. Que fiz eu da vida?" é um poema ortónimo de Fernando Pessoa, datado de 23/10/1931. Trata-se, portanto, de um poema tardio do poeta.

O fim do ano de 1931 é bastante complicado para Fernando Pessoa. Nos primeiros meses do ano, por volta de Março/Abril, ele acaba a segunda fase do namoro com Ophélia Queiroz e fica definitivamente sozinho. Está já cansado e a sua vida de solidão, consumo exagerado de álcool e tabaco, afectam a sua saúde de maneira cada vez mais marcada. É um homem precocemente envelhecido e e que sente que já nada o pode salvar.

O poema que analisamos agora é bem representativo desta tristeza que invadia a vida do poeta.


Chove. Que fiz eu da vida?
Fiz o que ela fez de mim...
De pensada, mal vivida...
Triste de quem é assim!


A reflexão sobre o seu passado e sobre a sua vida é uma das marcas principais da poesia ortónima de Fernando Pessoa. Ele, na primeira estrofe do poema, olha para a natureza, para a chuva, e compara-a à sua própria vida desolada. A chuva exterior encontra um paralelo numa "chuva interior", numa tristeza interior, considerando que, para ele, a sua vida era, no presente, um falhanço completo. "Que fiz eu da vida?" pergunta ele. Devemos esclarecer que Pessoa teria sonhos demasiado grandiosos para o que conseguiria alcançar. Sonhos de influenciar os destinos do país, da raça... mesmo da humanidade. E o que se concretizou disso tudo em vida? Nada. A 4 anos da sua morte, o poeta sente – com alguma razão – que falhou completamente aos seus sonhos de juventude.


Viveu uma vida em que não teve grande controlo sobre o que lhe ia acontecendo: "Fiz o que ela fez de mim...". Podemos mesmo dizer que ele provavelmente pensava que tinha antes sido vivido pela vida. Pensou sobre ela, planeou-a, mas viveu-a mal. E é isso que o entristece. "Triste de quem é assim!", lamenta-se ele finalmente.


Numa angústia sem remédio
Tenho febre na alma, e, ao ser,
Tenho saudade, entre o tédio,
Só do que nunca quis ter...


Essa condição de falhado não tem "remédio". Porquê? Porque não se pode apagar toda uma vida de fracassos, de sofrimento e de solidão. Mesmo que nos 4 anos que lhe restassem Pessoa subitamente – por qualquer milagre – conseguisse realizar tudo aquilo que desejava realizar nos anos anteriores, nem isso conseguiria apagar o seu sentimento. Esta angústia indefinida – que é um sentimento de alguém que existe mas sem razão para existir porque tudo o que desejava nunca se pode concretizar – leva-o a uma condição estranha, um "ser entre saudade e tédio". Saudade do que "nunca quis ter" e um tédio presente, porque nada faz sentido, nada faz sentido porque nada se aproxima das suas ambições. Em resumo a sua vida presente é absurda e parece-nos que ele apenas espera pela morte, para que tudo acabe. Nada mais há a esperar senão que tudo acabe.


Quem eu pudera ter sido,
Que é dele? Entre ódios pequenos
De mim, estou de mim partido.
Se ao menos chovesse menos!


A última estrofe já não traz nada de novo. Vemos que o poeta nos revela que o passado está perdido – o "outro eu", "o eu que pudera ter sido", não existe realmente – ou se existe é apenas numa dimensão estranha e paralela, inalcançável porque numa outra realidade apenas imaginada. A realidade é que ele está perdido desse outro eu, "partido", separado dele e de si mesmo. O seu último desejo é por isso um desejo que ao menos lhe parece real e que poderia apaziguar um pouco a sua tristeza – que chovesse menos.


quarta-feira, 13 de julho de 2011

O Mundo que nos Rodeia: O QUE SÃO AGÊNCIAS DE RATING?


Por ser deliciosa esta pequena história, não resisti em transcrevê-la, recebi de alguém e deixo aqui para que todos possam entender o que fazem as Agências de Rating.



O QUE SÃO AGÊNCIAS DE RATING?


Todos os dias o Miguel, filho do dono da mercearia, rouba pastilhas elásticas ao pai para as vender aos colegas na escola.
Os colegas, cujos pais só lhes dão dinheiro para uma pastilha, não resistem e começam a consumir em média cinco pastilhas diárias, pagando uma e ficando a dever quatro.
Até que um dia, quando já todos devem bastante dinheiro ao Miguel, ele conversa com o Cabeças, - alcunha do matulão da escola, um tipo que já chumbou quatro vezes - e nomeia-o como a sua agência de rating.
Basicamente, cada vez que um miúdo quer ficar a dever mais uma pastilha ao Miguel, é o Cabeças que dá o aval, classificando a capacidade financeira de cada um dos putos com "A+", "A", "A-", "B"...e por aí fora.
A Ritinha, que já está com uma dívida muito grande e com um peso na consciência ainda maior, acaba por confessar aos pais que tem consumido mais pastilhas do que devia.
Os pais, percebendo que a Ritinha está endividada, estabelecem um plano de ajuda para que ela possa saldar a sua dívida, aumentando-lhe a semanada mas obrigando-a a prometer que não irá gastar mais enquanto não pagar a dívida contraída.
O Cabeças quando descobre isto, desce imediatamente o rating da Ritinha junto do Miguel que, por sua vez, passa a vender-lhe cada pastilha pelo dobro do preço. A Ritinha, já viciada em pastilhas, prolonga o pagamento da sua dívida, dividindo o Miguel o lucro daí obtido com o Cabeças que, sendo o mais forte, é respeitado por todos.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Os "Nossos" SOCIÓLOGOS...




ANDRÉ FREIRE


André Renato Leonardo Neves dos Santos Freire, nasceu em 25 de Abril de 1961, em Lisboa, Professor Auxiliar do Departamento de Sociologia do ISCTE, desde 28 de Outubro de 2004.

Qualificação académica:

Doutoramento em Ciências Sociais (Sociologia Política) pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL) com a seguinte dissertação: “O significado da divisão entre esquerda e direita. Portugal, Espanha e Grécia em perspectiva comparativa”. 27/10/2004: Aprovado com Distinção e Louvor (por unanimidade).


Mestre em Ciências Sociais pelo ICS/UL. 4/2000: Muito Bom (por unanimidade).

Licenciatura em Sociologia pelo ISCTE. 6/1995: Média final: 17/20.

Curso sobre Medidas de Associação em Tabelas de Contingência Multivariadas (“Measurement and Modelling of Association in Multiway Contingency Tables”), no Zentralarchiv für Empirische Sozialforschung da Universidade de Colónia, Alemanha, entre 24 e 28 de Março de 2003.

Curso de Especialização em Métodos Quantitativos Aplicados (Módulos 4 – “Métodos de Previsão para Ciências Sociais e Empresariais” – e 5 – “Estatística Multivariada para Segmentação de Mercados e Posicionamento de Produtos”), ISCTE, Grupo de Investigação Estatística e Análise de Dados (GIESTA), Junho a Setembro de 2001.

Curso de Regressão Logística (“Logistic Regression Models: Logit/Probit”), no Zentralarchiv für Empirische Sozialforschung da Universidade de Colónia, Alemanha, entre 12 e 16 de Março de 2001.

Diploma do Test of English as a Foreign Language (TOFEL), obtido através do American Language Institute (ALI), após exame ao fim de 15 níveis (trimestrais).

Ensino:

a) Métodos e Técnicas de Investigação Sociológica I,
b) Sistemas Eleitorais, Opinião Pública e Comunicação Política,
c) Sociologia Eleitoral,
d) Sociologia Política,
(nas Licenciaturas de Sociologia e Sociologia & Planeamento)

e) Ciência Política, na licenciatura de Antropologia;
f) Sociologia Política I, na licenciatura de História Moderna e Contemporânea.
g) Partidos Políticos, Sistemas e Comportamentos Eleitorais, no Mestrado de
Ciência Política.

Actualmente:
Coordenador do Curso em Ciência Política

Investigação:

Investigador do CIES/ISCTE (Centro de Investigação e Estudos em
Sociologia). 2000-presente data.

Investigador, coordenador do projecto “Lógicas de Recrutamento
Parlamentar, 1975-1999”. 2000-2001, que decorreu no âmbito do CIES/ISCTE.

Publicações:

Livros (autor):

Freire, André, M.C. Lobo, P.C. Magalhães, e Ana Espírito Santo (2004),
Comportamentos e Atitudes Políticas: Inquéritos e Bases de Dados, 1985-2002,
Lisboa, ICS/Imprensa de Ciências Sociais. (no prelo)

Morais, Carlos Blanco, António de Araújo, e André Freire (2004), Entre a
Representação Desigual e a Derrota dos Vencedores: Estudo sobre a Reforma do
Sistema Eleitoral dos Açores, Lisboa, ICS/Imprensa de Ciências Sociais.

Freire, André, M.C. Lobo, P.C. Magalhães, e Ana Espírito Santo (2003),
As Eleições Legislativas de 2002: Inquérito Pós Eleitoral – Base de Dados, Lisboa,
ICS/Imprensa de Ciências Sociais.

Freire, André, e Pedro Magalhães (2002), A Abstenção Eleitoral em Portugal,
Lisboa, ICS/Imprensa de Ciências Sociais.

Freire, A, A. Araújo, C.L.Bandeira, M.C. Lobo e P.C. Magalhães (2002),
O Parlamento Português: Uma Reforma Necessária, Lisboa, ICS/Imprensa de
Ciências Sociais.

Lopes, F.F., e A. Freire (2002), Partidos Políticos e Sistemas Eleitorais: Uma
Introdução, Oeiras, Celta.

Freire, A. (coordenador) (2001), Recrutamento Parlamentar: Os Deputados
Portugueses da Constituinte à VIII Legislatura, Lisboa, STAPE/MAI.

Freire, André (2001), Mudança Eleitoral em Portugal Continental: Clivagens,
Economia e Voto em Eleições Legislativas, 1983-1999, Oeiras, Celta.

Freire, André (2001), Modelos do Comportamento Eleitoral: Uma Breve
Introdução Crítica, Oeiras, Celta.

Cabral, M.V., Vala, J., e Freire, André (2000), Orientações Perante as
Desigualdades Sociais: Base de Dados 3, Lisboa, ICS, Imprensa de Ciências Sociais.

Freire, André (1997) Lógicas de recrutamento político - Caracterização
Sócio-Política dos Parlamentares Eleitos entre a Constituinte de 1975 e as
Legislativas de 1995, Lisboa, STAPE/MAI.

Livros (editor):

Freire, André, M.C. Lobo, P.C. Magalhães (organizadores) (2004),
Portugal a Votos. As Eleições Legislativas de 2002, Lisboa, ICS/Imprensa de Ciências
Sociais.

Manuel Villaverde Cabral, Jorge Vala e André Freire (organizadores) (2003),
Desigualdades Sociais e Percepções de Justiça, Atitudes Sociais dos Portugueses,
Lisboa, ICS/Imprensa de Ciências Sociais.

António Costa Pinto e André Freire (organizadores) (2003), Elites, Sociedade
e Mudança Política, Oeiras, Celta.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

O Mundo que nos Rodeia: Euromilhões: Sabia que maioria dos vencedores perde tudo em dois anos?




Euromilhões: Sabia que maioria dos vencedores perde tudo em dois anos? 


A Renascença falou com uma especialista em finanças pessoais, que lhe deixa alguns conselhos para que tal não aconteça, no caso de ser um dos felizardos desta sexta-feira.
Cinco números e duas estrelas podem mudar a vida a muita gente. Mas essa mudança pode não durar para sempre. Estudos desenvolvidos por economistas e neuro-economistas revelam que as pessoas que ganham elevados montantes de dinheiro de repente gastam tudo em dois anos.


Não embarque em investimentos ou negócios oferecidos, aconselha Susana Albuquerque


Uma maneira de evitar que tal aconteça é não emprestar dinheiro “para investimentos que nos são oferecidos”, refere Susana Albuquerque, especialista em finanças pessoais, alertando para as várias “propostas de negócios e investimentos” que surgem quando alguém é premiado.
“O meu conselho é que sejam o mais conservadores possível, se querem garantir a manutenção da sua riqueza”, refere, em declarações à Renascença. Em seu entender, a melhor maneira de manter e também aumentar a fortuna é investir uma larga fatia do prémio num dos produtos mais conservadores que existe: depósitos a prazo:


Depósitos a prazo são local seguro para guardar o seu dinheiro



“Primeiro, colocar a maior fatia, 90%, do dinheiro, em investimento seguro, de depósitos a prazo. Depois, os outros 10%, é ter bom aconselhamento profissional e compreender esse aconselhamento, pedindo que mostrem os resultados do seu trabalho nos últimos dois, três anos, ou seja, quanto dinheiro já deram a ganhar a outras pessoas”, aconselha Susana Albuquerque.
Hoje, há jackpot do Euromilhões. Os apostadores concorrem ao maior prémio de sempre deste concurso: estão em jogo 185 milhões de euros. É normal, por isso, que por estes dias os apostadores façam contas e sonhem com o que podiam fazer com tanto dinheiro.


Rádio Renascença
08-07-2011

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Os "Pais" da SOCIOLOGIA: JANE ADDAMS (n. 06 Set.1860; m. 21 Mai.1935)



Jane Addams, nasceu em 6 de Setembro de 1860, em Cedarville — Chicago, 21 de Maio de 1935) foi uma socióloga e filósofa estadunidense. Filantropa norte-americana, considerada pelo presidente Theodore Roosevelt como «a cidadã mais útil dos Estados Unidos». O seu pai já revelava um grande espírito humanitário, defendendo a abolição da escravatura. Jane pretendia ser médica mas possuiria uma constituição muito débil, o que a levou a desistir de tal propósito. Porém, numa viagem a Londres, terá feito uma visita aos Serviços Sociais da capital inglesa e sentiu nascer em si uma nova vocação. Ao regressar a Chicago, tornou-se uma fervorosa defensora da paz e da justiça social, razão pela qual resolveu criar instituições que protegessem os imigrantes e os trabalhadores de todas as raças. Com a sua amiga Helena Gates Starr, ter-se-á instalado num barracão, o qual limparam e arranjaram de forma a albergar um serviço de assistência social que ficou conhecido como Hull House. Este foi inaugurado em 1889 e Jane foi, até à sua morte, sua chefe – residente.
No Hull House foram instalados jardins-de-infância, uma agência de emprego, oficinas, campos de recreação, biblioteca, escola de música e de aulas de artesanato, clubes, entre outras coisas. Desenvolveu ainda uma frutuosa acção no campo das leis, tendo auxiliado à promulgação da lei de protecção ao trabalho de menores e de mulheres, assim como procurando leis que promovessem maior segurança no local de trabalho, como por exemplo as fábricas.
Defensora do sufrágio feminino, Jane revelou-se uma pacifista e uma mulher desapegada dos bens materiais. Apenas ocupou um lugar remunerado, o de inspectora municipal de limpeza urbana. Todos os demais não eram remunerados. Fundou a Associação para o Avanço dos Povos de Cor, e tomou parte na Conferência Feminina Internacional da Paz. Foi escritora e conferencista, sempre em temas humanitários. Em 1931 foi-lhe conferido o Nobel da Paz. Morreu a 21 de Maio de 1935, em Chicago.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Os "Nossos" SOCIÓLOGOS...


PEDRO VASCONCELOS

Pedro e Vasconcelos Coito. É Assistente – ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. Publicou 5 artigos em revistas especializadas, possui 2 capítulos de livros publicados. Recebeu 2 prémios e/ou homenagens. Nas suas actividades profissionais interagiu com 9 colaboradores em co-autorias de trabalhos científicos.

1990-95
Sociologia.
ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, Portugal. – Licenciatura


1997-2002

Ciências Sociais.
Universidade de Lisboa, Portugal. – Mestrado


1996 – Actual

Professor Assistente do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa
Disciplinas Leccionadas:
·         Sociologia Geral
·         Sociologia Geral I
·         Sociologia Geral II
·         Metodologia das Ciências Sociais


Capítulos de Livros Publicados

Coito, Pedro e. V. 1998. Práticas e Discursos da Conjugalidade e de Sexualidade dos Jovens Portugueses.  In Jovens Portugueses de Hoje: Resultados do Inquérito de 1997, ed. Manuel Villaverde Cabral; José Machado Pais, 215 - 305. . Oeiras: Celta/SEJ.

Coito, Pedro e. V; al, et. 1998. Vida Familiar.  In e Valores na Sociedade Portuguesa Contemporânea, ed. José Machado Pais, 319 - 404. . Lisboa: ICS/SEJ


Artigos em Revistas sem Arbitragem Científica

Coito, Pedro e. V. 2002. "de apoio familiar e desigualdade social: estratégias de classe", Análise Social, 163: 507 - 544.

Coito, Pedro e. V; Wall, Karin; Inglez, Sofia A; Cunha, Vanessa. 2001. "Families and Informal Support Networks in Portugal: the reproduction of inequality", Journal Of European Social Policy II, 13: 213 – 233

Coito, Pedro e. V; Torres, Anália; Castro, José L; Inglez, Sofia A; Silva, Francisco V.. 1999. "Políticas Sociais e a Questão do Acolhimento das Crianças em Portugal", Cadernos de Políticas Sociais, 1: 43 - 90.

Coito, Pedro e. V. 1999. "Algumas questões sobre a sexualidade juvenil", Revista da Associação Para o Planeamento Familiar, 21/22.

Coito, Pedro e. V; Inglez, Sofia A; Truninger, Mónica. 1996. "Notas sobre as Representações Sociais e o Habitus: esboço de uma análise comparada", Psicologia XI, 2/3: 139 - 158.



Trabalhos Completos/Resumidos em Eventos sem Arbitragem Científica


Coito, Pedro e. V. 1992. "O Contrabando Raiano: Estratégia Económica Subterrânea Transfronteiriça", Trabalho apresentado em IIª Jornadas Alentejo/Extremadura, In Actas das IIª Jornadas Alentejo/Extremadura, Évora. Policopiado, Universidade de Évora.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O Mundo que nos Rodeia: PROFESSOR DIZ EM TRIBUNAL QUE SÓCRATES NÃO FEZ LICENCIATURA

Esta notícia foi publicada no jornal: SOL Online, pela jornalista Ana Paula Azevedo:

por Ana Paula Azevedo



O antigo responsável pelos cursos de Engenharia da Universidade Independente (UnI) afirmou ao tribunal que julga um dos processos-crime relacionados com esta instituição que José Sócrates «não é engenheiro», mas sim «supostamente licenciado» em Engenharia Civil.

E contou como o próprio ex-reitor, Luís Arouca, lhe confessou que todo esse processo passou-se nas suas costas.

As declarações são de Eurico Calado, professor fundador da UnI e durante vários anos director da respectiva Faculdade de Ciências e Tecnologia, sendo o responsável pela estruturação dos respectivos cursos e currículos. Foi também o último reitor da universidade, na sua fase final, antes de encerrar por ordem do Ministério do Ensino Superior, em Outubro de 2007.

No passado dia 20, Eurico Calado esteve a depor como testemunha no julgamento de um dos processos da UnI: o que tem como arguida a juíza Isabel Magalhães, ex-mulher de Rui Verde (antigo vice-reitor da universidade), acusada de falsificação e de branqueamento de capitais por, alegadamente, ter pactuado e beneficiado de parte dos 6,7 milhões de euros desviados pelo ex-marido.

As declarações de Eurico Calado sobre José Sócrates surgiram quando explicava ao Tribunal como, em meados dos anos 90, Arouca e Rui Verde começaram a disputar o poder e a afrouxar as regras, fazendo a UnI entrar num caminho «de descrédito», em termos académicos, que lhe desagradou e o levou a sair, em 2000.

«Se soubesses, nunca se tinha feito»

«Isto é importante por causa do Sócrates – ou melhor, ‘candidato’ Sócrates, como o Paulo Portas lhe chamou sempre nos debates na TV. E muito bem porque ele não é engenheiro». O professor universitário contou mesmo que chegou a confrontar Luiz Arouca: «Perguntei-lhe: ‘Ouve lá, Luís. Então o Sócrates licenciou-se na minha universidade, na faculdade de que eu sou director, e que até fez a minha cadeira (Inglês Técnico) e eu nunca soube de nada?’. Ele respondeu-me: ‘Se soubesses, isto nunca se tinha feito’. ‘Pois não’, respondi eu. Pelo menos nunca daquela maneira».

A testemunha explicou ainda aos juízes: «Eu percebo que as universidades precisam de visibilidade política. Ele era secretário de Estado e há umas manobras que é sempre possível fazer, mas dentro da legalidade, como apresentar uns trabalhos. E houve outros casos destes, de descrédito».

Mais à frente, o professor descreveu o ambiente conturbado nos dias que antecederam a prisão de RuiVerde e de Luís Arouca, na Primavera de 2007, com a invasão das instalações por skinheads e alunos, e a suspensão das aulas – levando a Inspecção-geral do Ensino Superior a entrar na UnI. Ao mesmo tempo, a Imprensa noticiava as dúvidas que a licenciatura do primeiro-ministro suscitava: «Atenção, o Sócrates tinha sido, supostamente, licenciado pela UnI. Talvez isto responda à pergunta de porque é que aquilo demorou tanto tempo a fechar. E também responde à pergunta de por que é que fechou. Porque, se não fecha, o processo acaba...».

No mesmo dia e perante o mesmo tribunal, depôs outra testemunha: Christian de Freitas, que foi contratado pela UnI para analisar a situação financeira e fazer um plano de recuperação. E afirmou que ia tratar destes assuntos à CGD, com Armando Vara, por indicação do vice-reitor, Rui Verde.

Recorde-se que a gestão da UnI – de onde foram desviados milhões de euros – está a ser julgada em dois tribunais. O julgamento do processo principal, contra antigos accionistas e dirigentes, entre outros arguidos, acusados de associação criminosa, abuso de confiança e burla, corre nas Varas Criminais de Lisboa, presidido pela juíza Ana Peres. E o segundo, por ter como arguida uma juíza, que tem de ser julgada por um tribunal superior, está a cargo do Tribunal da Relação de Lisboa, sendo presidido pelo desembargador Ricardo Cardoso. As testemunhas que ambos têm de ouvir são as mesmas e os julgamentos, dada a extensão dos processos, decorrem nas salas do Tribunal de Monsanto.

Outros professores e antigos funcionários têm testemunhado as irregularidades verificadas ao longo de uma década na UnI, sem que as autoridades do sector alguma vez a fiscalizassem.

Artigo Publicado: SOL ONLINE, 01 de Julho 2011