sexta-feira, 1 de abril de 2011

Os "Pais" da SOCIOLOGIA: ROBERT MERTON (n. 05 Jul.1910; m. 23 Fev.2003)


Robert King Merton, nascido Meyer R. Schkolnick, nasceu a 5 de Julho de 1910, em Filadélfia. Meyer R. Schkolnick usou esse nome durante os primeiros 14 anos de vida. Era filho de imigrantes da Europa Oriental e morou num apartamento em cima da loja de ovos e lacticínios do pai, até o prédio pegar fogo. Na adolescência, fazia truques de mágica em festinhas de aniversário e adoptou Robert Merlin como nome artístico, mas quando um amigo o convenceu de que sua escolha do nome do antigo mago era um lugar-comum, ele adoptou Merton com o apoio de sua mãe, de tendências americanizantes, depois de ter ganho uma bolsa de estudos para a Temple University.
Em palestra para o American Council of Learned Societies (Conselho Americano de Associações Eruditas) em 1994, Merton declarou que, graças às bibliotecas, escolas e orquestras a que tinha tido acesso, e até mesmo ao gang de jovens a que havia aderido, a sua juventude tinha-o preparado bem para o que denominava uma vida de estudo: "Os meus colegas sociólogos devem ter notado" – disse – "como aquele cortiço aparentemente carente em South Philadelphia proporcionou a um jovem todo o tipo de capital – capital social, cultural, humano e, acima de tudo, o que podemos chamar de capital público – isto é, todo o tipo de capital excepto o financeiro pessoal.
Um intelectual alto, fumante de cachimbo, Merton usou muitas vezes a trajectória de sua vida - do cortiço à realização académica - como material para ilustrar o funcionamento da serendipidade, do acaso e da coincidência, que há muito o fascinavam.
A sua carreira correu paralela ao crescimento e aceitação da sociologia como disciplina académica genuína. Em 1939, havia menos de mil sociólogos nos Estados Unidos, mas logo após Merton ser eleito presidente da Associação Americana de Sociólogos, em 1957, o grupo já contava com 4.500 membros.
Passou grande parte de sua vida profissional na Universidade de Columbia onde, juntamente com seu colaborador durante 35 anos Paul F. Lazarsfeld, falecido em 1976, desenvolveu o Departamento de Pesquisa Social Aplicada, onde tiveram origem os primeiros grupos focais.
Merton era às vezes chamado de "Sr. Sociologia", e Jonathan R. Cole, antigo aluno e director da Universidade de Columbia, disse uma vez: "Se houvesse Prémio Nobel de sociologia, não há dúvida alguma de que ele o teria ganho." Mas o seu filho, Robert Carhart Merton, ganhou o Prémio Nobel de Economia, em 1997.
Num perfil escrito por Morton Hunt em 1961 para a revista New Yorker, Merton foi descrito como demonstrando "surpreendente universalidade de interesses e talento para uma boa conversa, somente prejudicada pelo fato de ele estar incrivelmente bem informado sobre tudo, de beisebol a Kant, e estar sempre pronto, sem hesitar, a falar sobre parte do assunto ou todo ele".
De fato, no seu livro mais conhecido, On the Shoulders of Giants, Merton aventurou-se muito além dos limites da sociologia. Mencionado por ele como seu "filho pródigo intelectual", o livro revela a profundidade de sua curiosidade, a amplitude de sua prodigiosa pesquisa e a extraordinária paciência que também caracterizam sua obra académica. O trabalho começou em 1942 quando, num ensaio intitulado A Note on Science and Democracy, Merton menciona uma observação de Isaac Newton: "Se me foi possível enxergar mais longe, foi por estar nos ombros de gigantes." Acrescentou uma nota de rodapé esclarecendo que "o aforismo de Newton é uma frase padronizada que encontrou repetida expressão a partir do século XII".
Porém Merton não parou por aí. A intervalos, durante os 23 anos seguintes, seguiu a pista do aforismo de Newton através do tempo, enveredando tanto por becos sem saída como por avenidas frutíferas e por fim, terminou o livro em 1965, escrevendo-o em estilo discursivo que o autor atribuiu às suas primeiras leituras e subsequentes releituras do Tristam Shandy, de Laurence Sterne. Denis Donoghue, crítico e estudioso literário, descreveu o livro, com admiração, como "uma obra de arte excêntrica e contudo concêntrica, uma obra com suficiente flexibilidade para permitir uma digressão mais ou menos a cada dez páginas". E admitiu: "Eu gostaria de ter escrito On the Shoulders of Giants."
Nos últimos 35 anos, Merton vinha reunindo informações sobre a ideia e funcionamento da serendipidade e raciocinando sobre ela com a mesma atitude com que tinha escrito o livro anterior, que gostava de mencionar pelas iniciais OTSOG. Do mesmo modo empregado em todas as suas investigações, cotejou e considerou dados que havia lançado em fichas. Quase todo dia, começava a trabalhar às quatro e meia da manhã, em companhia de alguns de seus 15 gatos. Durante os últimos anos da sua vida, enquanto batalhava e vencia seis diferentes carcinomas, a sua editora italiana, Il Mulino, convenceu-o a autorizá-la a publicar os seus escritos sobre a serendipidade como livro. E quatro dias antes de sua morte, a sua esposa, a socióloga Harriet Zuckerman, recebeu a notícia de que a Princeton University Press havia aprovado a publicação da versão inglesa, com o título The Travels and Adventures of Serendipity.
Além da viúva, Harriet Zuckerman e de seu filho, Merton deixou duas filhas, Stephanie Tombrello e Vanessa Merton de Hastings-on-Hudson, nove netos e nove bisnetos. Morreu a 23 de Fevereiro de 2003, em Nova Iorque.

Principais contribuições para a Sociologia:

É considerado um teórico fundamental da burocracia, da sociologia da ciência e da comunicação de massa. Passou a maior parte de sua vida académica ensinando na Universidade Columbia. É pai do economista Robert C. Merton.
Robert K. Merton é talvez mais conhecido por ter cunhado a expressão "profecia auto-realizável". Também criou o conceito de grupo de referência.
Na sociologia da ciência, ficou famoso ao fazer uma análise weberiana do nascimento da ciência na Inglaterra do século XVII, destacando o papel da ética protestante na criação da Royal Society.
Merton desenvolveu também os quatro imperativos institucionais, conhecidos pelo acrónimo CUDOS. Trata-se de um conjunto de ideais que, segundo Merton, devem fundamentar os objectivos e métodos da ciência e que compõem o ethos científico:
  • Comunalismo – a propriedade comum das descobertas científicas Merton, de fato, usou o termo "comunismo", todavia, sem ligação com o marxismo;
  • Universalismo – critérios universais de verdade (não baseados raça, classe, género, religião ou nacionalidade).
  • Desinteresse – a acção do cientista não deve ser movida por interesse próprio
  • Cepticismo organizado – todas a ideias devem ser testadas e submetidas ao rigoroso escrutínio da comunidade

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