quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Os "Pais" da SOCIOLOGIA: HERBERT SPENCER (n. 27 Abr.1820; m. 08 Dez.1903)

Herbert Spencer nasceu em Derby, na Inglaterra, no dia 27 de Abril de 1820. O seu pai, George Spencer, esforçou-se durante muitos anos para ter uma carreira. Tentou repetidamente trabalhar com manufactura de tecidos, e depois com a venda de roupas, mas foi à falência. Ganhava pouco dinheiro dando aulas em escolas. Amigos sugeriram-lhe trabalhar num curtume ou tornar-se clérigo. A mãe de Spencer, Harriet Holmes, não teve uma vida mais fácil: apesar de ter tido cinco filhos e quatro filhas, apenas Herbert viveu além dos dois anos idade.
Spencer desenvolveu uma mente ferozmente independente motivado pelos seus pais que eram quakers. “A individualidade era pronunciada em todos os membros da família”, lembraria, “e um individualismo pronunciado é necessariamente mais ou menos divergente em relação à autoridade. Uma natureza independente e autónoma resiste a todo governo que não seja declarada e equitativamente limitado”.
A sua educação formal era limitada: três anos numa escola primária e, depois, por um tempo desconhecido (provavelmente breve), frequentou a escola de seu tio William, e teve como tutor, por períodos intermitentes, seu tio Thomas, que era clérigo. Relata-se que aos onze anos de idade parecia estar caminhando por conta própria, frequentando palestras sobre ciências. Quando seu pai ensinava física e química, o rapaz o ajudava a preparar as experiências. Educou-se a si próprio sobre plantas e animais. Tornou-se bom a desenhar esquemas de coisas. Aprendeu muito ao ouvir os amigos dos seus pais que visitavam, e conversavam sobre política, religião, ciência, e sobre o certo e o errado. O seu pai participava da Derby Philosophical Society, que tinha uma biblioteca modesta de livros e periódicos de ciência, e Spencer vasculhava esse material.
Tinha quinze anos quando publicou o seu primeiro artigo – sobre barcos – foi publicado numa pequena revista. “Meu artigo parecia-me muito bom”, observou ele na época. “Gritei e dei cambalhotas pelo quarto... E, agora que comecei, pretendo continuar a escrever coisas”.
Enquanto isso, Spencer precisava de um salário fixo. O sector de construção de trilhos ferroviários estava em expansão e, em Novembro de 1837, conseguiu um emprego para desenhar as plantas de engenharia no London and Birmingham Railway. Sempre habilidoso, também inventou vários mecanismos de medição relacionada aos trilhos de ferro, e escreveu sete artigos para a Civil Enginner’s and Architect’s Journal. Depois de quatro anos, tinha poupado algum dinheiro e decidiu parar por um tempo para tentar uma carreira como escritor. Participou em reuniões de grupos favoráveis ao livre-comércio e contrários à escravidão e a uma religião estatal. Escreveu uma dúzia de artigos sobre filosofia política para o The Nonconformist, um periódico radical, que depois seriam reimpressos num panfleto chamado de On the Proper Sphere of Government [“A esfera própria do governo”].
Spencer ainda estava muito longe de conseguir sustentar-se escrevendo, então voltou a trabalhar para as empresas ferroviárias por mais três anos. Continuou lendo todo tipo de livros e manteve-se informado sobre as questões públicas. Em Novembro de 1848, ofereceram-lhe um cargo de editor na Economist, um periódico defensor do livre comércio, onde trabalhou por cinco anos. Um dos editores era Thomas Hodgskin, um anarquista filosófico que pode ter-lhe influenciado.
Spencer usou o seu tempo livre para escrever o seu primeiro livro, Social Statics [“Estática Social”], que foi publicado em 1851. Apresentava uma entusiástica defesa moral e prática dos direitos individuais que chamava “liberdade comum”. Todos deveriam ser livres para fazer o que quiserem, insistia Spencer, desde que não interferissem na liberdade das outras pessoas. Consequentemente, ele defendia a abolição de todas as restrições comerciais, subsídios dos pagadores de impostos para igrejas, colónias no além mar, licenças médicas, estabelecimento de moedas oficiais, bancos centrais, escolas estatais, assistência social governamental, monopólio estatal dos correios e 46 obrigações governamentais.
Spencer mostrou como o interesse próprio leva as pessoas não apenas a prosperar – como Adam Smith explicara – mas a melhorar a vida de inúmeras formas. Por exemplo, Spencer disse isso sobre sistema sanitário: “Embora todos saibam que a taxa de mortalidade tem baixado gradualmente e que o valor da vida é maior na Inglaterra do que em qualquer outro lugar, e embora todos saibam que a higiene das nossas cidades é maior agora do que em qualquer outra época, e que nossos arranjos sanitários desenvolvidos espontaneamente sejam muito melhor do que os que existem no Continente, onde o mau cheiro de Colónia, os esgotos abertos de Paris, os encanamentos de Berlim e as calçadas miseráveis das cidades germânicas mostram os resultados da administração estatal, e, embora todos saibam dessas coisas, ainda se presume perversamente que apenas a administração estatal pode remover os últimos obstáculos à saúde pública.
O capítulo mais famoso era o XIX: “O direito de ignorar o Estado”. Mesmo durante o auge do liberalismo clássico, era preciso coragem para declarar que: “Se cada homem tiver a liberdade de fazer o que quiser, desde que ele não infrinja a liberdade comum de nenhum outro homem, então ele está livre para cortar os seus laços com o Estado, abrindo mão de sua protecção e recusando-se a pagar para sustentá-lo. É auto-evidente que, agindo desse modo, ele não faz nada que viole a liberdade dos outros, pois a sua posição é passiva e, como tal, ele não pode ser um agressor”.
Social Statics catalogou Spencer como um sucesso emergente e, em Julho de 1853, ele renunciou ao seu cargo na Economist, determinado a tornar-se um escritor independente. Vendia artigos para Westminster Review, Edinburgh Review, Fortnightly Review, British Quarterly, e outras publicações influentes. Aplicava as suas ideias tanto à ciência como à ética e às políticas públicas.
Financeiramente, Spencer passou por apertos e, por algum tempo, procurou um trabalho confortável no governo que lhe desse tempo para escrever, mas felizmente nunca se tornou um burocrata. Orgulhoso, rejeitou a oferta generosa de John Stuart Mill para cobrir suas despesas. Estava determinado a ganhar a vida no mercado de trabalho. Em 1860, Spencer teve a ideia de integrar a ética, biologia e sociologia numa extensa obra filosófica – e financiando o empreendimento pedindo a assinantes que pagassem um halfcrown por cada fascículo, enviado várias vezes ao ano. Pediu aos amigos famosos que escrevessem textos de recomendações, e conseguiu que 450 pessoas se tornassem assinantes. Entre os primeiros estavam intelectuais americanos respeitados como o editor Horace Greeley, o historiador George Bancroft, o clérigo Henry Ward Beecher, o botânico Asa Gray, o cientista político Francis Lieber, e o abolicionista Charles Sumner. Spencer começou a trabalhar em First Principles [“Primeiros princípios”], num livro sobre o desenvolvimento da vida.
Infelizmente, como em todo negócio editorial, Spencer passou a perder alguns assinantes. Quando não tinha mais renda para manter o projecto, anunciou que iria interrompê-lo. Mas, em 1865, o Dr. Edward Youmans, palestrante e fundador da revista Popular Science, que se tornara um grande fã de Spencer, ajudou-o a arrecadar 7.000 dólares de amigos americanos, o que foi suficiente para que ele continuasse com o empreendimento.
Spencer antecipou-se ao trabalho de F. A. Hayek, ganhador do prémio Nobel, que lembrou ao mundo porque a acção espontânea do mercado, e não o panejamento central, é responsável pelas mais impressionantes realizações da humanidade.
Spencer teve mais influência nos Estados Unidos, onde as pessoas estavam animadamente construindo uma nova civilização. Em 1864, a Atlantic Monthly dizia que: “Mr. Herbert Spencer já é uma força no mundo... [Ele] representa o espírito científico da época”. Seus princípios, concluía a reportagem, “tornaram-se os fundamentos visíveis de uma sociedade aprimorada”. William Graham Sumner, sociólogo de Yale, tornou-se o maior defensor americano das ideias de Spencer.
No que concerne à sua aplicação no domínio da sociologia, ela foi efectuada pelo próprio Spencer, que, assim, aderiu ao movimento do biologismo sociológico. Spencer parte da definição de sociedade como um organismo. Por analogia, destaca, então, processos de crescimento, expressos através de diferenciações estruturais e funcionais.
Tratando da evolução da sociedade,
Spencer sublinhará a importância dos processos de interdependência das partes, bem como a da existência de unidades (células) nos organismos e nas sociedades (ou seja, nos indivíduos). Spencer insistirá no facto de que, tal como nos organismos, também nas sociedades se observam fenómenos de assimilação, circulação, regulação, etc.
Apesar dos esforços heróicos de Spencer, a opinião pública passou cada vez mais a favorecer a intervenção do governo no final do século XIX. Talvez porque o governo tinha tornar-se tão mais limitado que já não parecia mais ser uma ameaça pública. Mais pessoas passaram a imaginar que o governo poderia fazer o bem. Spencer respondeu escrevendo quatro fortes artigos que afirmavam os princípios fundamentais do laissez faire e atacavam a intervenção do governo publicados na Contemporary Review em 1884. Eles despertaram o que ele chamou de “um ninho de vespas na forma de críticas vindas dos periódicos esquerdistas”. Em Julho de 1884, os artigos foram reunidos e publicados em um livro The Man Versus The State [“O homem contra o Estado”].
Foi uma performance magnífica, com Spencer martelando os seus adversários – os socialistas em particular – com factos dramáticos que mostravam porque novas leis saem pela culatra. Ele contou como os tectos das taxas de juros impostos pelo governo, supostamente criados para ajudar as pessoas, sempre dificultavam a obtenção de empréstimos. Documentou como as bem intencionadas autoridades de Londres demoliram casas para 21 mil pessoas, construíram novas casas para 12 mil e deixaram 9 mil desabrigadas – antecipando ataques idênticos aos que seriam usados contra o programa do governo americano de “renovação urbana” durante o século XX. O jornalista americano Henry Hazlitt considerou que esses foram “uma das mais fortes e influentes defesas de um governo limitado, laissez faire e individualismo jamais escritas”.
Spencer aparentemente ficou deprimido com as acusações de que ele era superficial e insensível e, em 1892, aprovou uma edição revisada de Social Statics sem o capítulo XIX original, “O direito de ignorar o Estado”. Essa concessão não acalmaria os seus críticos. O juiz Oliver Wendell Holmes, defendendo as regulamentações trabalhistas de Nova York em 1905, dois anos depois da morte do filósofo, julgou necessário denunciá-lo explicitamente: “A décima-quarta emenda não implica na implementação de Social Statics do senhor Herbert Spencer”.
Ainda assim, o século XX, o mais sangrento da história, mostrou que Spencer foi um profeta fenomenal. Com mais força e clareza do que qualquer pessoa durante a sua vida, ele alertou que o socialismo levaria à escravidão. Condenou o militarismo muito antes que a corrida armamentista europeia explodisse na Primeira Guerra Mundial. Ele antecipou os males das políticas de assistência social que destroem os incentivos para que as pessoas pobres se tornem independentes. Previu o fracasso colossal da educação estatal. Afirmou que os indivíduos privados eram responsáveis pelo progresso humano. E teria ficado entusiasmado com o ressurgimento mundial da economia de mercado nos nossos dias, provando a sua convicção de que, onde o governo menos interferir, mais se verá a decência e o aprimoramento nas vidas das pessoas comuns.
Faleceu em 08 de Dezembro de 1903, em Brighton.

Obras:

XXXX  Estática Social
XXXX  Sistema de Filosofia Sintética
1863  A Educação Intelectual, Moral e física

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