domingo, 6 de fevereiro de 2011

A Minha Tese: Percursos e Representações sobre o Consumo Excessivo de Álcool: Um Estudo Exploratório na Grande Área de Lisboa - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO


Centro Regional de Alcoologia do Sul




O Centro Regional de Alcoologia do Sul (CRAS), foi estruturado organicamente pelo Decreto-lei nº 318/2000, de 14 de Dezembro e dotado de autonomia técnica, administrativa, financeira e património próprio. Tem como principal missão, desenvolver metodologias de abordagem à Prevenção, Tratamento e Reabilitação, nas vertentes de abuso, dependência e compulsão ao consumo de bebidas alcoólicas.
O Centro articula-se nas áreas técnico-científicas com a Direcção-Geral de Saúde e funcionalmente com vários serviços de saúde mental, sendo a sua área de influência as Regiões de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve.
Dentro da sua área de actuação o CRAS tem a vertente Ambulatória e Internamento.
Na vertente Ambulatório, as consultas externas funcionam todos os dias úteis, em dois tipos de horários, o horário normal, das 8h30 às 17 horas, e horário pós-laboral, às segundas, terças e quartas feiras, das 17 às 19 horas, à quinta feira das 17 às 18 horas e, à sexta feira, das 17 às 20 horas.
O CRAS não tem serviço de urgência, pelo que perante uma situação de urgência, o utente deve dirigir-se à urgência psiquiátrica da sua área de residência.
As marcações de consultas podem ser feitas todos os dias úteis, das 14 às 16h30 minutos, podendo qualquer pessoa fazê-lo, desde que tenha os elementos de identificação do utente, e que exista a concordância deste. A documentação necessária para a primeira consulta é o bilhete de identidade, identificação do subsistema de saúde a que pertence e análises, se as tiver, sendo o preço desta primeira consulta o valor normal da taxa moderadora, nestes casos, € 4,20.
A caracterização destes tratamentos em ambulatório, é feita feitos da seguinte forma:
·         Uma equipa multidisciplinar (médicos e psicólogos), privilegiam uma abordagem sistemática da problemática integrada com uma intervenção individual, satisfazendo as necessidades individuais do paciente,
·         Combinam-se várias estratégias terapêuticas, adequadas ao problema e à etapa de recuperação,
·         É aconselhado aos pacientes e seus familiares assistirem a grupos de Auto-Ajuda, do tipo “12 passos”, nomeadamente Alcoólicos Anónimos (AA), Narcóticos Anónimos (NA) e reuniões para familiares e amigos dos alcoólicos (Al - Anon),
·         O Tratamento faz-se em ambulatório em regime de consultas externas, agendadas de acordo com as necessidades do paciente, havendo possibilidades de recorrer ao internamento, sempre que necessário,
·         Aconselha-se sempre que possível a existência de um co-responsável,
·         Privilegia-se sempre que possível o recurso a medicação aversiva,
·         A alta do utente é acordada entre este e o técnico que o acompanha, mas nunca é inferior a dois anos de abstinência sustentada.

Quanto ao Internamento, o doente deve ser previamente avaliado em consulta externa. Não sendo doente do CRAS, deverá marcar uma primeira consulta onde se fará a avaliação clínica da necessidade do internamento.
O internamento implica o preenchimento de uma folha de consentimento informado para o internamento onde constam as normas de internamento, fazer análises e outros exames que constem na lista das normas de internamento, e se possível, vir acompanhado por um familiar ou alguém co-responsável. O internamento funciona no CRAS e é gratuito para o utente. Como objectivos, o internamento pretende a abstinência total e sustentada do consumo do álcool e funciona de acordo com três áreas:

1.    Área médico-psiquiátrica que se ocupa da desintoxicação física do álcool e de qualquer problema físico que surja durante o internamento,
2.    Área de enfermagem de cuidados continuados,
3.    Área de intervenção psicoterapêutica inspirada num programa psicoterapêutico.

A caracterização deste programa é adaptada do Modelo Minnesota, que se baseia em quatro componentes:

1.    Abstinência total de álcool e drogas para o resto da vida,
2.    Recurso à filosofia dos 12 passos,
3.    Terapia da realidade,
4.    Conceito de adição, como sendo uma doença primária, crónica, progressiva e potencialmente fatal.

As actividades desenvolvidas durante o internamento, resumem-se a:

·         Palestras educativas sobre o conceito de doença, filosofia dos 12 passos, sentimentos, perdas, danos, assertividade, comunicação e outras,
·         Leituras terapêuticas,
·         Trabalhos terapêuticos,
·         Psicoterapia de grupo,
·         Sessões de informação para famílias,
·         Conferências de famílias,
·         Terapia do grito (psicoterapia emocional),
·         Terapia familiar,
·         Role-Playing[1],
·         Terapia pela arte e,
·         Reuniões de Alcoólicos Anónimos (AA), Narcóticos Anónimos (NA) e Al – Anon[2].

A duração deste tipo de internamentos tem uma média de quatro a cinco semanas, com acompanhamento em grupos terapêuticos de pós – alta durante dois anos. O CRAS tem 24 vagas para homens e 6 vagas para mulheres, não sendo nunca possível o internamento de urgência, pois o mesmo obedece a uma lista de espera.
Segundo o relatório de actividades para o ano de 2004, publicado pelo CRAS, cada médico fez, em média, 7 consultas por dia. Medindo um pouco mais a produtividade ao nível de consultas médicas, foram efectuadas 7.158 consultas (1.034 primeiras consultas e 6.124 de seguimento). Foram internados 345 indivíduos, correspondentes a 9.833 dias de internamento e 899,5% de taxa de ocupação.
Em 2004, o CRAS organizou o 7º Curso de Formação em Alcoologia e fizeram-se intervenções em diversos congressos, acções de prevenção em escolas e, intervenção em empresas.
Colaborou ao nível do ensino pré – graduado com orientação de 13 estágios de estudantes universitários de serviço social (3), de enfermagem (3) e de psicologia (7), para além das aulas teórico e práticas do 5º e 6º ano de medicina.
No ensino pós – graduado orientou e supervisionou 16 estágios profissionais: Psicologia (4), Serviço Social (1), Enfermeiros (3), Médicos (7) e 1 estágio de observação.
Considerando que o CRAS funciona tendo em vista a satisfação dos utentes a que se destina, conforme se pode comprovar pela existência de duas reuniões abertas de Alcoólicos Anónimos e Famílias Anónimas, no seu interior, frequentadas por dezenas de pessoas, que nele se reúnem às Quartas e Sábados, concretiza aquilo que designamos por uma instituição organizada para prestar um verdadeiro serviço público.
Quanto à produção do sector ambulatório, resume-se o que aconteceu em 2004:


                      Fonte: Caderno de Actividades 2004, CRAS



Numa análise mais profunda, podemos ver a evolução em termos de consultas médicas nos últimos 6 anos:

                                                     
                        Fonte: Caderno de Actividades 2004, CRAS


Quanto à proveniência dos doentes do sector ambulatório, embora a grande maioria seja da área de Lisboa e Vale do Tejo, (embora para o nosso estudo apenas interesse a região de Lisboa e Vale do Tejo) também outras áreas do país foram contempladas, conforme nos mostra o quadro seguinte (para o ano de 2004):


                               Fonte: Caderno de Actividades 2004, CRAS


Ainda relacionado com o sector ambulatório, foram realizadas as seguintes actividades:


                           Fonte: Caderno de Actividades 2004, CRAS


Passando agora para o internamento, o movimento do sector, em 2004 foi o seguinte:

                                       Fonte: Caderno de Actividades 2004, CRAS



No ano de 2004, a proveniência dos doentes do internamento por distrito e por regiões de saúde foi a seguinte:



                                       Fonte: Caderno de Actividades 2004, CRAS


Numa análise mais profunda, podemos ver a evolução em termos de internamentos nos últimos seis anos:


                            Fonte: Caderno de Actividades 2004, CRAS



Entre muitas outras actividades realizadas pelo CRAS, queria destacar o “PROGRAMA STOP”, que foi criado pelo Instituto de Reinserção Social (IRS) com o objectivo de dar resposta legal a condutores apanhados em operações de controlo, pelas forças policiais, com mais de 1,2 de taxa de alcoolémia.
Com um projecto-piloto em Torres Vedras, desde 1999, o programa passou a ser executado por outras zonas do país, a partir de Janeiro de 2002.
O papel do CRAS neste processo insere-se no âmbito do diagnóstico do Sindroma de Abuso ou Dependência de Álcool, seguido de um programa de mudança de atitudes ou tratamento, respectivamente, caso se verifique.

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[1] Modelo de ensino que pertence à família das Interacções Sociais. Este ajuda os indivíduos a compreender o comportamento social, o seu papel nas interacções sociais e as formas de resolver problemas de uma forma mais eficaz. Ajuda também os indivíduos a organizarem e sistematizarem a informação no que respeita a assuntos do foro social, a desenvolver relações com os outros e a aperfeiçoar as suas próprias capacidades sócias. Este modelo, requer que os indivíduos experienciem os conflitos, aprendam a desempenhar os papeis dos outros e observem os diferentes comportamentos sociais.
[2] É uma associação de familiares e amigos de alcoólicos que partilham a sua experiência, força e esperança afim de solucionarem os problemas que têm em comum. O Al-Anon não está ligado a nenhuma seita, religião, movimento político, organização ou instituição; não se envolve em qualquer controvérsia, nem endossa ou apoia qualquer causa. Não existem taxas para ser membro.                                                
O Al-Anon é auto-suficiente graças às suas próprias contribuições. O Al-Anon tem apenas um propósito: prestar ajuda a familiares de alcoólicos. Fazemos isso praticando os Doze Passos, acolhendo e proporcionando alívio a familiares de alcoólicos, bem como compreendendo e encorajando os alcoólicos.



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